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Nos meus rastros

Quantas coisas da vida ficam guardadas na memória?

Manoel Therezo
Publicado em 17/03/2012 às 20:14Atualizado em 19/12/2022 às 20:44
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Quantas coisas da vida ficam guardadas na memória? Como em um cérebro tão pequenino, se acomodam tantas mil coisas? E, que registro é capaz de fazer!... Guarda tudo. Até inacreditáveis e bobas lembranças. Tudo fica nesse pequenino órgão. Momentos, personagens, nomes, lugares, cores, até perfume... Um aparelho dotado de um mecanismo que ninguém sabe explicá-lo. Para manuseá-lo não precisa de Manual de Instrução. Aliás, de Manual, precisa sim, perdão...  Todos nós o recebemos logo no comecinho de nossa vida. No dia 17 de março de 1928, quando eu nascia, 84 anos passados, também comigo veio o meu Manual. Procurei, mas não achei. Não consta numeração. Certamente, não teria algarismos suficientes para cada coisa que eu iria registrar. Fato notável é que cada qual aprende a trabalhar com ele de seu jeito. Tudo nele tem um título em letras enormes. No capítulo ESQUECER, por exemplo, lá está escrit APAGAR. Parece que isso é o suficiente porque não fala mais nada. CHORAR, naquele Manual, tem muitas páginas. Muitas mesmo. Todas repletas de ensinamentos, mas tudo em letrinhas. Como não lemos aquelas letrinhas, não aprendemos e choramos muito. Por final, o capítulo CALENDÁRIO.  Não há muito que ler. Estranho!... Apenas uma determinaçã DESTACAR uma folha todos os meses. Hoje, 17 de março, distante daquele meu primeiro dia, não a destaquei – mesmo assim, mais um ano na minha existência lá se foi. Não sei quantas folhas ainda me faltam para destacar.  Até nem é bom saber. A infância, a cada vez, vai ficando mais distante, sem nos deixar um caminho para voltar –, mas se eu o encontrasse e ele de novo me levasse à infância, para não mais a velhice saber voltar, bem sei o que faria nos meus rastros:                  

OS APAGARIA.

Céleres, meus anos de mim partiram...

Com eles também, minhas esperanças.

Uma a uma, sorrateiras seguiram,

Deixando apenas rastros de lembranças.

Ah!... Se nesses rastros um dia eu pisasse,

E eles de volta me levassem à infância,

Que bom seria... Rever minha face

Lisa e de sentir na boca a fragrância                       

Das cerejas e das pitangas roubadas

Do vilarejo pobre onde eu vivia,

Falando a sós, como toda criança                                                                            

Fala e sonha num castelo de fadas.

Ah!... Se esses rastros me levassem à infância,

Após pisá-los, OS APAGARIA.

(*) Odontólogo; ex-professor universitário (Odonto Uniube)

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