“Acho que hoje comi um pouco demais.” Foi o que ouvi de um amigo meu enquanto almoçava. Maneira de falar aparentemente normal, mas afrontando as regras da lógica. Revelava, porém, o “modo” estranho de expressar de nossa linguagem. Aos poucos fui descobrindo que “sim” significa “não” e vice-versa. São modos de falar espontâneos e comuns no falar de todos os dias. São riquezas gramaticalmente fora das regras, mas não deixam de ser riquezas de nossa linguagem. Outros exemplos: o garoto aproxima-se do pai e pede: “Pai, posso ir ao cinema hoje?” A resposta vem em seguida: “Pois não, meu filho”.
É um “não” significando “sim”. A filha dizendo à mãe: “Hoje vou ao baile do Carnaval”. Resposta da mãe: “Pois sim...” É um “sim” significando “de modo nenhum”. Poderia dar dezenas de exemplos. Você conhece e os emprega constantemente: “Isto é muito pouco”, “sair para fora”, “descer para baixo”, “subir para cima”, “entrar para dentro”, e assim por diante.
Este modo de falar não nos envergonha, mas enriquece nossa conversa de todos os dias. O que nos envergonha é a linguagem dos concursos. É imenso o número de jovens que não sabem escrever uma frase sem erros de linguagem.
É pena que eu não tenha tomado nota. Li uma reportagem sobre um concurso onde centenas de participantes foram impedidos de aprovação por causa da caligrafia. Palavras ilegíveis. Houve tempo em que havia nas escolas aulas de caligrafia. Não sei como estão as coisas, mas, hoje, a meninada está vibrando com os aparelhinhos modernos. Só basta escorregar o dedo e pronto... já sabe português.