O noticiário dos tempos atuais está perdendo a graça. Não é apenas na África, na Ásia, revoluções e morticínio nascem em todo lugar – e o Brasil não quer ficar fora da fila. Estou prisioneiro – voluntário das noites na fazenda Shangri-lá, e tenho que ver a televisão noturna. É uma graça – ou desgraça – ver como os canais de maior audiência e visão se comportam das seis da tarde até ali pelas nove da noite. Parece que todos querem provar maior filme de horror – o crime mais sórdido e traiçoeiro, a criança aviltada e assassinada, o inimigo em que jogaram gasolina e pau-de-fósforo, o cadáver da moça violentada jogado na mata de beira de estrada, o festival dos drogados com seus roubos e mais crimes... Caramba, se não tenho jogo do Flamengo vou me embebedar! Aliás, bem fazia o Francisco, antigo tratorista do Zé Humberto ali no Rio do Peixe: das seis em diante, até cair no sono, era pinga na cachola – um homem libertado do horror! Bem, pego os jornais que trouxe – a Folha de S.Paulo e o nosso Jornal da Manhã: quero descansar, penso. Besteira, os jornais do mundo aderiram ao escândalo, ao crime, às guerras e violência de toda espécie – esta é a leitura ou audiência que nos mostram do mundo. Aqui em Uberaba tem pelo menos uma distração, que embora de repetição não entrou ainda pelo grande horror. Mas cansa, companheiro, porque o nosso horror é pequeno mas de repetição diária, semanal, mensal, etc. A política, então, é um tesão de repetição sem solução. O tal gasoduto é sempre prato do dia, repetido sempre e sem solução ou novidade – deve ser usado para mostrar atividade e dedicação à política. Aliás, política serve pra tudo, dá sempre uma impressão de dedicação e trabalho. Nossa Lídia Prata esconde-se de vez em quando, falta-lhe munição de explosão – imagino seu sofrimento dizendo que o Paulo Piau vai a São Paulo para discutir gasoduto... mas não pode falar com o Geraldo Alckmin, governador do lado oposto... então, é só para conversar com os que já são nossos? Chega, minha gente, vou acender a televisão. Sofrer aqui é ruim, lá adiante é mais fácil...