Estimado Leitor, no campo da cultura e do entretenimento, há uma lógica de mercado que sustenta a tese de que somente as novidades devem ser consumidas. Por isso, os bens culturais são cuidadosamente bem embalados, a fim de se passarem por coisas inéditas, nunca antes vistas. Isso se dá por uma razão muito simples: a “novidade” não terá o mesmo apelo comercial se o seu público alvo não a perceber assim. Dizendo de outro mod o já envelhecido não vende.
Os mais suscetíveis a essa perniciosa lógica são os jovens. Inúmeros motivos fazem deles o alvo preferencial dessas novidades de plantão e, em várias situações, a juventude não percebe que a novidade de hoje não passa de uma (má?) releitura do passado. A fim de colaborar com essa discussão, cabem alguns exemplos.
Não há quem ainda não tenha ouvido falar da stand up comédia. Nesse tipo de espetáculo, um humorista, sozinho e em pé, em frente ao microfone, relata situações engraçadas, tentando dar a elas um fio condutor. Tem sido a maior novidade. Em Uberaba mesmo, já tivemos a apresentação de alguns artistas que se dedicam ao gênero. Pois bem, em 1952, José de Vasconcelos, grande humorista, estreou, na TV Tupi, o programa A Toca do Zé, no qual, em pé e em frente ao microfone, contava as suas piadas (há inúmeros vídeos dele no YouTube).
Grande parte do público jovem se maravilha com as apresentações de Stefani Joanne Angelina Germanotta, mais conhecida como Lady Gaga. Com roupas espalhafatosas, maquiagem pesada e perucas delirantes, ela pode ter criado um dos visuais mais extravagantes do mundo pop, porém, em nenhum momento, inédito. Antes dela, Madonna, Cindy Lauper e os brazucas dos Secos e Molhados, grupo de rock paulistano dos anos 70, já usavam esses truques para chamar atenção das pessoas.
Ainda no campo da música, muitos se deliciam ao ouvir as letras de duplo sentido que fazem o sucesso de inúmeras bandas do Nordeste. Brincando com a possibilidade de uma palavra ter vários significados, grupos como Calcinha Preta e Aviões do Forró fazem um relativo sucesso. Mas... Genival Lacerda, cantor paraibano, em 1955, gravou um LP de 78 rotações (os mais jovens, já para o Google), no qual contava a história de Severina Xique-Xique (aquela que montou uma boutique pra vida melhorar) e seu romance com Pedro Caroço, filho de Zé da Gamela. Picardia, bom humor e, lógico, muito duplo sentido. Isso, pasmem, em 1955.
Em 1958, os estúdios Hammer estavam quase na total falência quando resolveram filmar Horror of Drácula (no Brasil, O Vampiro da Noite). A magistral interpretação de Christopher Lee, no papel principal, aliada a uma fotografia de tirar o fôlego, fizeram do filme um sucesso imediato, salvando a pele dos executivos da Hammer. Nos últimos três anos, basicamente, as livrarias e os cinemas foram invadidos por uma onda vampiresca que nem longe faz jus aos pioneiros do gênero.
Há vários outros exemplos e um dia desses volto ao tema (o Leitor pode ajudar enviando os seus próprios exemplos para o e-mail do articulista). Por hora fica a ideia de que nem toda novidade merece essa alcunha e que, na imensa maioria das vezes, o antigo é muito superior ao novo. Bom domingo a todos.
(*) Doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus