Em determinadas profissões, constitui-se um verdadeiro desafio apoiar-se em conhecimentos tradicionais e ao mesmo tempo estar aberto às novidades oferecidas na contemporaneidade.
Cada tempo possui as suas exigências e peculiaridades e hoje, na área da Psicologia, não podemos nos manter alheios às consequências das mazelas sociais e nem aos avanços da Psiconeurobiologia, que nos traz contribuições não antes pensadas.
Do ponto de encontro desses dois fatos, surgiu, na década de 80, uma nova abordagem psicológica que muito tem contribuído no tratamento de casos de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) vivido por pessoas que enfrentaram situações de guerras, catástrofes naturais, abusos sexuais, acidentes e outros fatos ligados à violência urbana, com acidentes, assassinatos, assaltos, sequestros, etc.
Segundo esta nova abordagem – e esta é primeira novidade – as experiências traumáticas provocam anomalias no cérebro que agregam em determinada área do hemisfério direito lembranças, imagens, sentimentos, sensações corporais e cognições negativas sobre si mesmo, entendendo como tal, crenças, leituras ou interpretações e expectativas que, quando não reconhecidas e tratadas, acabam por prejudicar a vida da pessoa, impedindo-a de ter uma psicodinâmica condizente com sua idade e condições gerais.
A sigla EMDR é traduzida como Dessensibilização e Reprocessamento Por Movimentos Oculares e utiliza como procedimento básico a estimulação bilateral do cérebro seja por estímulos visuais, táteis ou sonoros.
Tais estímulos, segundo Francine Shapiro, terapeuta americana, que é sua criadora, têm o poder de provocar mudanças nas estruturas cerebrais que fazem com que o paciente reprocesse o seu trauma acessando áreas cerebrais que “descobrem” maneiras mais adaptativas e transformam as crenças negativas provocadas pelo trauma, em crenças positivas e funcionais, libertando-o das sequelas deixadas pelo mesmo.
As mudanças aqui relatadas já foram comprovadas anatômica e fisiologicamente por inúmeros estudos que utilizaram tomografia por emissão de pósitrons (PET scan) e ressonância magnética funcional que não deixam dúvidas sobre a funcionalidade desta abordagem.
Podendo ser utilizada somente por médicos e psicólogos devidamente inscritos e regulares junto aos seus Conselhos Profissionais, a segunda novidade é o tempo em que o EMDR produz mudanças. Ele não necessita de anos de psicoterapia e demonstra os seus resultados em poucas sessões.
Somos poucos terapeutas brasileiros utilizando esta abordagem e, apesar de recentemente ter concluído a formação para utilizá-la, tenho podido comprovar resultados muito positivos que me trazem a esperança de uma verdadeira revolução nos atendimentos psicológicos.
Concluo convidando aos colegas da área da Saúde e leitores em geral (principalmente aqueles que estejam enfrentando as consequências de situações traumáticas e violentas), que procurem antes de eventuais prejulgamentos, os esclarecimentos amplamente disponíveis na internet...