No domingo passado entrei cedo na minha mercearia
No domingo passado entrei cedo na minha mercearia abastecedora da fazenda (é verdade!) de frutas, verduras, tomates, etc. Era cedo, gente da vila ia chegando com iguais propósitos, e vários me cumprimentavam, com amabilidade e conhecimentos que eu não me lembrava. Uma coisa foi sempre lembrada: a minha vida como médico “generalista”. Outra, de importância: estas crônicas aqui no Jornal da Manhã. Eu pensava que apenas um grupo mais intelectualizado as lia, mas nã gente simples e humilde também lê, e logo me dão ou pedem palpites sobre a vida. E mais, estes palpites eram por vezes muito importantes, coisas que eu mesmo avaliava. Escrevi sobre os nossos governos, minha visão pessoal... e lá vinha a concordância do carregador e da senhora mãe de família, e mais gente falando do mundo e das coisas atuais – e pior, como é próprio do brasileiro, baixando o pau no governo, na educação, na moral e os novos costumes da juventude. Ali estavam, pensei, razões e motivos para novas e muitas crônicas, tantas que não terei tempo e vida para contar. Por exemplo e sust quase todo mundo assiste a TV, seus noticiários... e as novelas. Parece-me que a vida das gentes é fixada e preocupada com a visão e a conversa da televisão. Uma jogada só: aquela novela recém-acabada mostra o beijo amoroso de dois homossexuais, coisa que deveria ser inimaginável há pouco tempo. Havia, é possível, mas escondido e envergonhado. Também os hábitos e regras da vida familiar, como diria Xisto Borges: tudo foi pro beleléu! A garota de recém-menstruações já mostra as coxas altas, e os peitos receberam silicone. Os machos, agora em moda, deixam crescer a barba em variados pontos, tatuagens são obrigatórias pelo corpo abaixo e acima... Olhe, meu leitor, não são apenas os jovens marginais, também gente que chamamos “de família” estão nestes usos e costumes... e não sei se os meia-idade também continuarão a aderir. Não tenho suficiência nem moral para ser modelo, mas tenho experiência para criticar os exageros deste novo mundo e nova gente. Uma educação moderna é necessária... é tolerável. Entretanto, estão perdendo a medida, pulando cada vez mais pra frente, sem ver que estradas podem terminar no esbarrancado. Um daqueles companheiros me disse: doutor, não tá fácil viver! E eu complet é, companheiro, vai ficando mais fácil morrer!