Coisa difícil é ser capaz de perceber o que se passa enquanto estamos na situação. Mais frequente é a compreensão retroativa, que o tempo, às vezes, refina o discernimento. Que dizer das novas formas de comunicação e arte?
A internet virou o mundo de pernas para o ar e mesmo o locutor do mais famoso noticiário de alcance nacional se queixa de que os tempos em que ele era a fonte primária de informação já se vão. Às oito da noite, as notícias da hora do almoço já são história antiga, com cem voltas e contravoltas. O jornal, que antes era esperado com ansiedade quase religiosa, agora é meio aborrecido e algo irrelevante no grande esquema do dia.
E os grandes temas, aqueles mais complexos, que alinhavam muitos fatos e propõem conclusões mais abrangentes? Se antes os livros eram quase a única forma de fazer essas teses mais complexas chegarem ao grande público, uma forma de arte vem dando um baile nos últimos tempos: o documentário.
Não há muito tempo, a maioria das pessoas teria visto uns poucos, só aqueles mais apelativos e capazes de transbordar além do público habitual, como o do diretor Michael Moore (“Tiros em Columbine”), ou temáticos, como o excelente “Todos os Corações do Mundo”, filme oficial da Copa de 1994.
Agora, há uma enxurrada de filmes e séries, e numa safra de qualidade. Só na Netflix, o brilhante “Wild, Wild Country”, sobre a ida do guru Osho para uma cidade no interior dos Estados Unidos; “Fyre”, sobre um malfadado festival numa ilha paradisíaca, e “O Golpista do Tinder”, título autoexplicativo, são exemplos da nova onda de ouro do gênero.
Com a democratização dos canais de distribuição de conteúdo, a cada dia aparecem mais títulos e, por isso, podemos hoje ver o polêmico “Duas Mil Mulas”, sobre práticas duvidosas ocorridas nas eleições americanas de 2020, além de “Capital Punishment”, que mostra a confusão por lá no dia da certificação.
E, no Brasil, temos o acachapante “Entre Lobos”. Abordando o tema difícil da criminalidade no país, combinando entrevistas e histórias bem contadas, é quase uma tese sobre o assunto. Vem de uma produtora que encontrou seu espaço e está consolidando sua reputaçã espera-se qualidade e relevância a cada filme lançado. O antigo lema: “leia o livro, veja o filme” foi colapsado, e o público agradece.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com