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O barril de Chaves e Diógenes

Estimado leitor, você conhece o Roberto Gomes Bolaños? E o Ramón Gomes Valdez e Castilho?

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 25/07/2010 às 14:51Atualizado em 20/12/2022 às 05:13
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Estimado leitor, você conhece o Roberto Gomes Bolaños? E o Ramón Gomes Valdez e Castilho? E a Maria Antonieta de las Nieve Gómes e Rodrigues? Não? Por esses nomes, creio que não conheça mesmo. Mas o Chaves, o Seu Madruga e a Chiquinha, você, com certeza, conhece. Respectivamente, aqueles são os nomes verdadeiros destes.

Mesmo quem não gosta do programa, já ouviu falar da Turma do Chaves, programa infantil mexicano criado em 1971 (no Brasil, ele foi exibido, pela primeira vez, em agosto de 1984, quando fazia parte do Programa do Bozo).

A ideia do seriado é muito simples: todos são amigos, moram numa pequena vila e têm o seu cotidiano retratado. A maioria dos personagens são crianças e, por isso, vivem se metendo em confusão. Cada um encarna um arquétipo, facilitando a nossa identificação com um deles. O Kiko, por exemplo, é o filho mimado, o Seu Madruga, o eterno devedor de aluguéis, a dona Florinda, a mãe superprotetora, e assim por diante.

O personagem mais carismático não poderia ser outro que não o próprio Chaves. No programa, ele é um garoto órfão de oito anos, cuja origem é desconhecida. Muito pobre e simples, vive correndo atrás de um pouco de comida e de doces. Seus brinquedos são confeccionados por ele mesmo, a partir de algum tipo de sucata. E o traço que, acredito, o torna tão especial: Chaves, apesar de morar num barril, é capaz de, com pouquíssimas coisas, levar uma vida extremamente feliz.

Outro que morava num barril era Diógenes (412-323 a.C.), o Cínico. Ele é apontado, em muitas histórias da Filosofia, como um filósofo que menosprezou, ostensivamente, os poderosos e as convenções sociais. Foi discípulo de Antístenes (que, por sua vez, havia sido discípulo de Sócrates), o fundador da Filosofia Cínica (lembrando que a palavra cínico tem outro sentido no âmbito filosófico). Como todos os demais cínicos, não valorizava o poder econômico e as convenções sociais, julgando ser necessário levar a vida mais simples possível.

A vida de Diógenes ficou associada a diversos episódios que expressam as suas ideias éticas, as únicas a que, segundo seu pensamento, merecem a importância dos homens de bem. A única forma de vida aceitável seria aquela associada à natureza, tudo o mais não passava de inutilidades.

Conta-se que Alexandre, o grande imperador da antiguidade, tinha grande admiração por suas ideias. Ao encontrá-lo, teria se oferecido para lhe dar um presente, bastando Diógenes dizer o que queria receber. O filósofo, entrementes, somente pede que Alexandre saia da sua frente, pois estava a lhe impedir de tomar sol. E teria acrescentad Não me tire o que não pode me dar!

Para demonstrar sua atitude de desprezo pelas convenções sociais,  Diógenes tinha como casa justamente um barril e usava verdadeiros trapos como se fossem roupas. Perambulava por toda Atenas com uma lamparina acesa, mesmo sendo dia, afirmando a quem o interrogasse  que procurava um verdadeiro homem:  aquele que não se deixasse levar por uma vida sofisticada.

Cada um ao seu modo, o personagem Chaves e o filósofo Diógenes, nos adverte, em tempos de inúmeras ofertas de falsas sofisticações, o quão é importante primarmos por uma vida mais simples, onde valores como a amizade e o desprendimento sejam cultuados.

Bom domingo a todos.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM

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