Vendo a notícia que bombou na Internet sobre a menina dos cabelos azuis
Vendo a notícia que “bombou” na Internet sobre a menina dos cabelos azuis que não pode permanecer na escola, penso na facilidade que as pessoas emitem opiniões a partir de fatos parciais e descontextualizados.
Uns dizem que o pai deveria processar a escola, mas ele disse em entrevista para a TV, que ainda não tinha tomado decisão a respeito. Penso que essa atitude se deve ao fato de que há detalhes que desconhecemos. Só ele conhece a personalidade da filha, se opositora e desafiadora; sua lida com limites e autoridades; se esse fato foi isolado; como é seu histórico escolar e desempenho acadêmico...
Pouco posso dizer sobre a atitude da escola. Não conheço seu regimento e como ele é divulgado. Não sei se a menina foi reincidente com cabelos seus azuis e nem se foi avisada para modificar sua cor.
Quem nunca dirigiu uma escola, não possui noção do quão é difícil respeitar a diferença na igualdade ou manter a igualdade na diferença.
Há precedentes que uma vez abertos, podem significar o fim de uma “marca”. Se pode entrar de cabelo azul, poderá vir o vermelho, o amarelo e o azul, lembrando um verdadeiro carnaval.
Aos que afirmam que a cor dos cabelos não influencia na aprendizagem e eu diria que concordo, mas acrescentaria que escola não é espaço fashion. Se ela se tornar um espaço de moda, desconstruirá o uniforme como ferramenta que iguala alunos de diferentes camadas sociais.
A uniformidade na apresentação pessoal lembra o objetivo comum dos alunos na escola: desenvolver habilidades intelectuais e sociais, cultivar valores humanos e éticos, dentre eles o de conviver com o fato de que diferentes espaços nos impõem diferentes atitudes, inclusive no vestir.
Que o diga Geise Arruda em São Paulo com seu vestidinho cor de rosa. Foi à escola vestida para matar, e ridicularizada pelos colegas, acabou tendo projeção inusitada.
Voltando ao caso de Uberaba, é bom frisar que educação é tarefa a quatro mãos. Nela nem sempre é saudável a marcada divergência de opinião entre pai e mãe, avós e pais, Família e Escola. Quando uns desautorizam os outros o educando ressente-se da falta de referência segura e deita e rola ou cria asas, como diziam os antigos.
Além disto, pais devem buscar escolas condizentes com sua filosofia de vida. Se tradicionais, não se enquadrarão com escola liberal. Se liberais, não ficarão satisfeitos com uma escola tradicional...
Escrevo esse artigo com muito cuidado e respeito porque na lida escolar, clínica e familiar, percebo a dificuldade de se educar num mundo em constantes transformações.
Que me perdoem a família da menina e sua escola. Se os desagradei em algo, esse episódio foi apenas mais um daqueles impasses do mundo contemporâneo que me levam a compartilhar com os leitores o que vejo além da superfície!
(*) Mestre em Psicologia Clínica; terapeuta das Perdas e do Luto; palestrante