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O celibato sacerdotal

Os meus leitores sabem que eu viajo pelo perigo, e com frequência me justifico pela idade: a legislação brasileira é generosa

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 10/02/2010 às 00:48Atualizado em 20/12/2022 às 08:11
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Os meus leitores sabem que eu viajo pelo perigo, e com frequência me justifico pela idade: a legislação brasileira é generosa, não apenas protege, mas até mesmo perdoa os idosos. Vem daí a franqueza com que escrevo sobre temas até tenebrosos e de perigo, armado apenas da minha longa experiência e observação existencial. Pensei muito sobre esta crônica. O seu título, sozinho, já exigiria uma enciclopédia de estudos de prós e contras. Mais uma vez vou ficar na minha, abro uma página delicada que outros poderão melhor conhecer e argumentar – apenas, penso que não poderão ignorar, e mais uma vez sufocá-la com o cobertor.    Alguma coisa básica eu lembro na história da humanidade. Em princípio aquela besteira de Eva no Paraíso, comendo a maçã proibida e condenando-nos à dureza da vida, o homem trabalhando raivosos e por certo esculhambando a companheira: você viu o que você fez!!! É, mas ele também comeu da maçã. Depois vieram milhares de anos em que a mulher viveu em sujeição e obediência, secundário papel na existência humana. Na vivência religiosa ela carregava e lavava os pratos sagrados, ficava lá atrás, véu na cabeça e olhos no chão. Os sacerdotes pouca ou nenhuma atenção lhes davam. Em algumas religiões orientais isto começou a mudar há muitos séculos. Para os judeus, a nação escolhida por Deus para preservar e difundir sua lei, a mulher continuou secundária. Nem mesmo Maria e as Santas mulheres exerceram ofícios religiosos – eram trabalhadoras, faziam e serviam seus apóstolos, emocionavam-se e atraiam o público dos pobres e sofredores. E, naturalmente, é por aí que chego, casavam-se e geravam os filhos da nascente cristandade. Os apóstolos se casavam, Pedro – o primeiro papa – era casado, e na história nunca se obrigou aquele celibato nos primeiros tempos. Daí vai que um determinado concílio (foi de Tentro? Me acode padre Prata!), decidiu que o sacerdócio exigia a solidão da castidade, e isto é lei até os tempos atuais.    Vale apontar que religiões cristãs existem com excelentes sacerdotes casados e pais de família. A nossa religião católica não admite esta conduta, que aliás não foi determinada por Jesus Cristo, mas sim por seus humanos seguidores. Não vou lembrar os milhares de sacerdotes católicos considerados apóstatas pecadores e excluídos, ou outros milhares de santos católicos que poderiam ser padres – mas não podem porque são casados. Lamentavelmente sou lembrado, e cada vez com mais frequência nos tempos de hoje, de padres que não aguentaram a solidão da castidade, e pior ainda, de jovens desviados que se ordenam em verdadeiras comunidades gays. Para todos estes que sofrem e se angustiam pelo celibato sacerdotal obrigatório, penso que nossa religião deixa de ser exemplo e salvação.  O celibato como opção, penso, é uma oferta e sacrifício individual, que o bom Deus saberá considerar e premiar. O celibato obrigatório, imposto a toda a comunidade sacerdotal, não veio da legislação de nosso Senhor Jesus Cristo. Se fosse de seu desejo e ordem, Ele teria dito. Se não o exigiu, porque ordenar este sofrimento, verdadeiro castigo e até exclusão de tantos que o amam, desejam e podem servir-nos? Se o amor for a moeda característica do cristão que ama a Deus, estes excluídos não merecem castigo. Lembro a palavra de Jesus sobre a pecadora que veio chorar a seus pés – e Ele falou apenas do seu perdão, porque ela muito o amava. Assim estão vivendo muitos em angústia o seu sofrimento e exílio. Isto deve ser pior que o desamor daqueles que cumprem falsamente e em pecado a sua lei que é apenas humana e opressora.

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