Quem não conhece um chato, é porque o é. Eles estão à solta por onde andamos, pelos lugares que frequentamos e nas mais variadas situações de nossa vida. Não sabemos quando nos transformamos em um chato de galocha ou se já nascemos com as combinações biológicas favoráveis à adubação da chatura dentro de nós. Disse-me certa vez um amigo que ele não mais conseguia conviver com certas pessoas, as achava repetitivas e sem conteúdos novos que despertassem algum interesse em dialogar. Aquele assunto melancólico estava ficando chato demais, então, perguntei pelo seu cachorro de estimação e ele se lamentou dizend “ele fugiu pra casa do meu vizinho, mas, às vezes, ele vai lá em casa xeretar um pouco.” Eles estão por todas as partes usufruindo do espaço da convivência, exercendo influência e nos tirando a paz com os seus comentários repetitivos. Entre o chato e o doido, prefiro este. Quando faço as minhas caminhadas encontro vários destes ao longo do caminho. Uberaba é uma cidade pródiga para as duas espécies. No entanto, os doidos são interessantes, nos despertam para a reflexão; aquele outro, não; e nos alegram com as suas observações. Durante a caminhada, ele me viu e perguntou: “Você sabe por que amanhã é segunda-feira”? Não, respondi. “Porque hoje é domingo” e, depois, concluiu: “Você não prestou atenção que hoje é domingo”? Não tive outro caminho a não ser rir daquela simplicidade tão lógica que fugiu de minha resposta. Quem é prolixo acaba no lixo da chatice. Todo chato é mal humorado, implicante com todos e com tudo. Geralmente, quer ser notado pelas qualidades que tem, mas que são anuladas pela sua natureza oposta. Creio que o lugar onde mais se encontra o chato é no trânsito, local ideal para se forjar um chato ignorante. Combinação demolidora e que provoca distúrbios irreparáveis ao próximo. Temos que ficar atentos, senão nos tornamos um deles. O pior de todos desta combinação, é aquele que sai com o seu carro e coloca o som automotivo no último volume, crendo que a sua música é a melhor, quando sabemos que eles nos apresentam o que há de pior na relação musical. Como eles são chatos e invasivos em nossas vidas. O doido não. Os seus transtornos mentais ou sofrimentos são dignos de nosso respeito e da nossa solidariedade, embora sejamos tão distantes de seus mundos. Tenho um amiguinho que anda com o seu balde pendurado no braço que quando me vê diz: “é uma alegria ver você”, e segue o seu caminho. Ele sempre foi assim; quando mais jovem andava correndo pelas ruas da cidade como se estivesse dirigindo um carro. Ele cresceu, e ninguém percebeu como também não percebemos o tempo ao nosso redor, só reclamamos do tempo perdido como se fosse possível perder algo que não se tem. Mas temos que evitar o chato porque ele nos causa efeitos colaterais em nossa convivência, quando começamos a ter atitudes de proximidade. Enquanto que o doido não, esses são mais interessantes e ricos em suas conversas e perguntas.
(*) Professor