Está na Bíblia, meus leitores: não há crime sem castigo. Adão e Eva comeram da maçã proibida e foram expulsos do paraíso – é culpa deles a dureza em que vivemos eternamente
Está na Bíblia, meus leitores: não há crime sem castigo. Adão e Eva comeram da maçã proibida e foram expulsos do paraíso – é culpa deles a dureza em que vivemos eternamente. Também o homem, que se diz ser figura de Deus, recebeu esta herança: o crime merece e tem que ser castigado. Criaram-se nesta base os alicerces da sociedade humana: crime e castigo são figuras não apenas legendárias, além de Dostoyewsky e através da cultura civilizada. A ideia do castigo não era apenas punição do criminoso, servia igualmente como ameaça e prevenção de outros crimes, a certeza de que seriam castigados. Não vou esticar filosofia nem exemplos, eles existem desde a história da humanidade. Qualquer um sabe da lei de Talião, olho no olho, dente por dente e até das punições cruéis, amputações, a fogueira, a sufocação respiratória, o afogamento – e a decapitação pelo machado do carrasco. Aconteceram erros e crueldades no castigo, a humanidade ficou mais cuidadosa no julgamento e mais leve na punição. Tudo bem até aí: permanecia vigente a ligação intrínseca do crime com seu castigo. Agora, chegamos à idade moderna que se diz humanista, caridosa e pronta para o perdão do pecado – no caso, dos crimes do pecado. Vou tentar encurtar, porque, no que se segue, tenho a vasta experiência da idade e das convivências com a atual medicina e a atual humanidade. Existe um crime, um gravíssimo crime, que a sociedade conhece e sofre, mas não sabe o que fazer, mesmo porque nossos comandantes do pensamento e da sociedade jogam este lixo debaixo do tapete. Refiro-me ao que me parece ser o maior e mais difundido crime da sociedade: a droga. Sutil, protegida e até utilizada por nossos poderosos e nossas leis, a droga invade e digere nossa sociedade, ricos e pobres, homens e mulheres, jovens e idosos, educados e ignorantes. As notícias dos crimes bárbaros e cruéis aparecem na imprensa, gente queimada viva, castrada, violentada, assassinatos com meios bárbaros... É, meu amigo, isso pra mim é o de menos, uma simples cortina de fumaça sobre o crime maior, que está na propagação, na degradação e aceitação da droga com o simples: ah, isto não tem jeito... Eu vejo a Isolina santa morrer de infarto por um irmão drogado e ladrão; a Valdete com filho assassinado e outro drogado dizendo que vai pôr fogo na casa se ela não lhes der dinheiro... que dinheiro, coitada, de uma cozinheira na vila? E os outros que se prostituem, homens usuários que devem tornam-se traficantes, como suas mulheres e, depois, seus filhos. A lei?... diz que usuário é um coitado inimputável, não pode ser preso, é vítima, não criminoso, pelo menos enquanto não roubar ou matar, fisicamente ou pelo sofrimento de pais e mães. Os traficantes? Bem, existem os multinacionais, acima e além das leis, que usam o braço dos seus aliados inferiores, criminosos, assassinos, porque a sua lei é a violência como arma e convicção. Enquanto tudo isso passa e acontece, os nossos comandantes estão desorientados, preferem não fazer nada... em certos casos que conheço, por medo puro e simples. Curiosamente, eu já escrevi sobre isso, e sobre a fórmula de conviver e honestizar a inevitável droga. É possível conviver com a droga, aí estão o fumo e o álcool, devidamente aceitos e legalizados. Deixará de ser crime, apenas terá legislação – e quem sabe até determinadas indicações, o que já existe... Se quiserem continuar, me escrevam. Se não... caramba, Dino, vamos pescar de novo!
(*) Médico e pecuarista