“O dedo do gigante”
Quando o velho estiver diante de certas criaturas mais novas, o que melhor lhe parece fazer é fechar os olhos para não se deparar com coisas estranhas aos seus costumes. Não se objetiva dizer que não existem velhos se comportando assim também. Alguns já se amparando sobre a bengala copiam as coisas dos jovens de hoje. São eles, os velhos copiadores, passando até por cômicos. No anverso disso, também a maioria dos jovens são copiadores. Basta que se atente para os cortes de cabelos de alguns jogadores de futebol, com suas tatuagens procurando com isso, notoriedade. Dias atrás, algo me aconteceu. Numa sala de espera, eu aguardava ser atendido. Quase em seguida à minha chegada, uma senhora parecendo-me estar por volta de seus 45 ou 50 anos, também adentrou segurando pela mão, uma criança me parecendo estar com 12 anos no máximo. Logo percebi que era sua filha. A menina sentou-se bem à minha frente. Fiquei discretamente olhando o seu jeito de se assentar. Nada, absolutamente diferente do assentar de uma criança com aquela idade. Com os mesmos cuidados discretos, continuei assistindo aquela menina toda assim: óculos escuros enfiados nos cabelos, como de costume das muitas madames pelas ruas. Dois brincos de tamanho exagerado para uma criatura de 12 anos. Uma saia curtíssima mostrando as perninhas finas. Pela aparência, herdava geneticamente as de sua mãe pelo que se percebia. Sobre sua roupa, vestia também uma blusa para frio amarrada na cintura pela frente, caindo para trás cobrindo-lhes as nádegas vestidas. Em seu ombro esquerdo, uma bolsa pequena de pano toda bordada com pedacinhos de vidro coloridos. Era bonita a bolsa de pano bordada. Continuei lhe observando. Por inacreditável, não calçava tênis como os jovens de hoje e sim, uns tamancos altíssimos para melhorar a sua ainda baixa estatura de criança. Surpreendentemente, retirou da bolsa um celular. Tentou várias vezes. Nada de atender. Fiquei olhando o seu dedilhar naquele aparelho. Fez inveja a mim, velhote de 87 anos. Que coisa, pensei... Como uma mãe é capaz de indumentar uma criança como estava a sua filha? Acostumá-la a se trajar sem excesso, é o dever de todas as mães – mas, naquele exagero de cópia, fiquei indignado. Olhando aquela menina, fiquei pensand provavelmente é assim que se cria como dizem; “Um bibelô de sala de visita”. É provavelmente assim que se faz para forjar uma criatura fútil, pedante, vaidosa, cheia de “não me toques e birrinhas”. Como estava, era uma criatura inocente vestida nos exageros de uma mãe ignorante. Aquela criança no amanhã, indubitavelmente ensinará à sua filha, a arte de copiar exageros como foi acostumada. Minutos depois, foram atendidas. Entregaram um envelope e se foram. Se houvessem ficado, por não me conter, com certeza perguntaria algo cuja resposta me seria uma belíssima “esfrega”. De cabeça baixa, fiquei ali sozinho naquela sala conjecturando a verdade do sábio adági “Pelo dedo se conhece o gigante”. Pra que perguntar? Aquela criança toda enfeitada nos desejos de sua mãe boçal, era o “O Dedo do gigante”.
Manoel Therezo,
Professor “Emérito” da Fac. Odonto. UNIUBE