ARTICULISTAS

O folgado que morreu

Comercialino, cervejeiro, boêmio, seresteiro e pescador. Está aqui contrariado...

João Eurípedes Sabino
forumarticulistas@hotmail.com
Publicado em 09/09/2016 às 20:05Atualizado em 16/12/2022 às 17:25
Compartilhar

“Comercialino, cervejeiro, boêmio, seresteiro e pescador. Está aqui contrariado”. Eis o maneiroso epitáfio escrito na tumba de Márcio Antonio Paiva (27/08/1936 - 06/06/2011), torcedor do Comercial Futebol Clube de Ribeirão Preto/SP. No túmulo está ele em foto, sorridente. No último dia 27, o boa-praça completaria 80 anos de uma vida que, pelo visto, pode ter sido levada a sério, porém regada a boas noitadas, serestas e pescarias. Folgado, Márcio repousa eternamente em algum dos três cemitérios ribeirão-pretanos.

O recado sepulcral de Márcio me remeteu logo a Jessé Gomes da Silva Filho, o Zeca Pagodinho e seu bordã “Deixa a vida me levar, vida leva eu, deixa a vida me levar, vida leva eu...”. Nunca fui de deixar a vida me levar, nos moldes de Zeca, mas não lhe tiro a razão. Ela, a vida, é o único campo do qual jamais sairemos vivos. O que se leva da vida é a vida que se leva. Por esses e por outros motivos é que o samba de Zeca faz tanto sucesso. Sou seu fã de carteirinha.

Se eu pudesse, pediria ao ilustre carioca de Irajá que, em tributo a Márcio Antonio Paiva, musicasse as palavras seguintes:

 O FOLGADO QUE MORREU: Podem me chamar / De folgado e espaçoso / Gostei de trabalhar / Mas curtir a vida foi mais gostoso. Se à vida eu pudesse voltar / As mesmas coisas eu faria /Aos amigos eu iria contar / Que morrer é uma porcaria. Na morte nos igualamos / Na vida imperam diferenças / Com os vivos digladiamos / Por estéreis desavenças.

É um sonho meu, mas talvez nasceria aí um samba (ou sambinha) de breque, no compasso de Jorge Veiga ou Germano Mathias, com as bênçãos do mestre Moreira da Silva. A caneta de Zeca Pagodinho acrescentaria os versos que Márcio ainda não ganhou e só o carioca sabe fazer. Afinal, o falecido (folgado) parece ser a imagem real do compositor, apesar de estarem em planos diferentes.

Ah, se todos nós, ao morrer, pudéssemos deixar escrito em nossa lápide algo que sentimos ou pensamos. Márcio Antonio Paiva usou frases e estilo inusitados, com uma incrível capacidade: não provocar tristeza porque morreu, e sim receber amistosos sorrisos, ou até gargalhadas.

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por