A Federação Internacional de Futebol (Fifa) passou a se preocupar com as manifestações religiosas dos jogadores durante as partidas. Não seria uma forma camuflada de proselitismo religioso? Ou seria um recurso psicológico para adquirir confiança no seu desempenho dentro do campo? Por outro lado, a Declaração Universal dos Direitos Humanos garante ao cidadão o direito de manifestar sua fé. Há pano para muita manga neste debate e não é possível prever a solução da Fifa.
O certo é que essas manifestações religiosas estão cada vez mais ostensivas, algumas até girando na área do ridículo. Maradona (um santo!...) marcou um gol com a mão contra a Inglaterra e declarou que aquele gol foi marcado pela mão de Deus. Romário (outro santo!...) fazia vários sinais da cruz quando perdia uma jogada importante. Era uma espécie de esconjuro das influências negativas que estava sofrendo. Kaká levantava a camisa e exibia em inglês um “I belong to Jesus” (eu pertenço a Jesus). Um outro não deixa por menos: “Only Jesus” (Somente Jesus). Neymar não fica atrás: “Deus é fiel”. Esqueci-me de um outro que se banha com água benta e fez dezenas de sinais da cruz. Usain Bolt ganha os cem metros e aponta o dedo para cima, como se dissesse: foi Ele quem deu um empurrãozinho. Afinal, me pergunto, quais seriam os critérios usados por Deus para ajudar alguns e prejudicar a outros? É interessante! Deus tem seus preferidos: o Romário, o Maradona, o Marcelinho, o Bolt. O Kaká era mais feliz ainda, além de “pertencer a Jesus”, tinha a seu favor a proteção de um bispo e de uma bispa que faziam descer dos céus uma invejável proteção sobre ele.
Não faz muito tempo, li nos jornais as declarações de uma passageira vítima de um desastre de ônibus. Houve várias mortes, mas ela se salvou. “Comigo não aconteceu nada, graças a Deus escapei desta vez.” Escapou? Ótimo! Mas por que graças a Deus? Acho estranho e injusto esse Deus que salva um (Ele é fiel) e manda vinte e seis para as cucuias. Alguns mereciam morrer e outros não?
Caro leitor, se você quiser saber o que penso, fique bem clar nada disso é manifestação de Fé. É uma injúria feita a Deus que, propositalmente, salva uns e mata outros. Nós estamos criando um Deus “à nossa imagem e semelhança”?
Não viajo sem fazer minhas orações, não uma Ave-Maria sapecada de qualquer jeito. O que peço a Deus é que se faça a vontade dEle. E qual é a vontade dEle? É que tudo corra bem, que os motoristas sejam responsáveis, que sejam ajuizados, prudentes, que dominem sua pressa, que não façam ultrapassagens de loucos, que não bebam, que seus veículos estejam bem vistoriados, que as estradas sejam bem sinalizadas e assim por diante. Dizem as estatísticas que quase cem por cento dos desastres são devidos a falhas humanas. Quem falha somos nós e não Deus. Quem mata somos nós e não Deus. Deus não é responsável pelos nossos desatinos.
Dou-me por feliz se você entender o que estou escrevendo. Por favor, não crie em sua cabeça um Deus montado pelos nossos critérios humanos. Deus não está em nosso nível. Deus está no nível de Deus. Tenhamos juízo.