As agências de publicidade, que vivem da propaganda, apregoam que “propaganda é a alma do negócio”. O exemplo maior de que
As agências de publicidade, que vivem da propaganda, apregoam que “propaganda é a alma do negócio”.
O exemplo maior de que propaganda é uma arma eficaz para tornar um produto conhecido e, consequentemente, consumido, percebe-se no canto da galinha depois de botar o ovo, o que torna seu produto conhecido por todos. Pode ser esse o motivo pelo qual os ovos de galinha têm preferência no consumo popular. Já o ovo da pata, maior que o da galinha, é bem menos consumido, talvez pelo fato de essa ave não fazer propaganda depois de botar.
Entretanto, há casos de exagero na publicidade. Um exemplo é a que o governo, considerado no seu sentido mais amplo, faz. Diz a Folha de S. Paulo na sua edição de 13 de abril: “O governo federal (...) gastou mais de R$ 1,027 bilhão com publicidade nas administrações direta e indireta em 2008, contra R$ 968,8 milhões no ano anterior”.
Registra o jornal que, nos gastos com publicidade, “houve um pulo de 96% entre 2003, ano da posse, e 2006, quando o petista foi reeleito, passando de R$ 555 milhões para R$ 1,086 bilhão.” A matéria informa ainda que “em 2008, foram R$ 918,4 milhões em patrocínios, valor que, somado ao da publicidade, chega a quase R$ 2 bilhões, número próximo aos grandes anunciantes privados, como Casas Bahia ou Unilever.” A televisão, segundo a Folha, ficou com R$ 641 milhões. Houve gastos também com jornais, rádios, revistas, Internet, outdoor...
Se somarmos todos esses gastos do governo Lula com publicidade, desde sua posse em 2003, chegaremos a um valor vultoso. E se esse valor tivesse sido aplicado em saúde, educação, infraestrutura, segurança, transporte, o Brasil poderia ter avançado nesses setores.
A publicidade institucional é necessária, sim. É preciso mostrar ao povo, por exemplo, de que forma agir para evitar doenças, como dengue e tuberculose. Mas o absurdo ocorre com a propaganda exagerada, como a que se viu sobre a construção de um milhão de casas para a população. O que se gastou com esse tipo de publicidade poderia ter sido empregado na construção de outras tantas casas.
E por qual razão os governos têm de proclamar o que foi feito, valendo-se, para isso, do dinheiro do povo, se os governantes foram eleitos a fim de, justamente, aplicar esse dinheiro em benefício do povo? Televisões, rádios, jornais e revistas vivem de notícias (e de publicidade) e bem poderiam, por uma nova lei, divulgar as boas obras do governo, num espaço bem mais reduzido do que o que é ocupado com publicidade, sem a necessidade de pagamento. Afinal, já divulgam, de graça, problemas e equívocos do governo...
Essa ideia pode parecer radical. E o defensor ferrenho dos gastos com publicidades governamentais, mesmo que excessivos, encontrará bons argumentos para justificar essa mordomia.
E como ficariam os publicitários? Para eles, jamais faltará serviço. Todo empresário já internalizou o que disse o empresário Rockefeller: “Se eu tivesse apenas um dólar para investir, eu o usaria em propaganda.”
Os recursos públicos devem ser aplicados em projetos de proveito para o povo, como melhores salários para professores e policiais, pavimentação de estradas, construção de hospitais, melhoria do funcionamento dos que já existem... Essa relação é extensa. E, infelizmente, o dinheiro nem sempre está sendo aplicado onde deveria.
O governo precisa relatar os seus feitos ao povo que o elegeu. (Afinal, o Brasil é de todos e todos têm o direito de saber onde e como o dinheiro é aplicado.) E que o faça, não como propaganda, mas como uma detalhada prestação de contas. Se houver interesse pessoal ou partidário em fazer propaganda, que ela seja paga do bolso de quem quer fazê-lo em particular, ou pelo partido que tiver esse interesse.
(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro