Mais um Natal como tantos outros se passou. Quantos de nós por descuido
Mais um Natal como tantos outros se passou. Quantos de nós por descuido da morte, estamos ainda assistindo a mais um Natal sem oração e sem presépio se passar. Aquele de ontem que aflorava no coração do homem o seu verdadeiro sentido, velhas criaturas acostumadas a vê-lo, não o tem visto mais. Hoje, o Natal é música “Pop” em volume estridente, é a grande panela de comida à mesa, cercada por dezenas e dezenas de garrafas esperando por seu deslacre. Na sala onde criaturas se abraçam desejando muita paz e novos sonhos, daquela árvore que esparge cintilações coloridas, muitos que a montaram não sabem da sua verdadeira razão. Também, no desigual da sorte em lar sem pompa, pais festejam um Natal simples, mas que leva regozijo ao coração. Esse é o Natal que os velhos se lembram. Mas o homem de hoje capaz de tantas coisas, se transformou numa enorme surpresa ao Criador. Fez de Sua obra maior, um mundo espantoso que se estremece aos estrondos que encerram vidas. Repara lá fora o medonho quadro que amedronta corações. Parece que todos que passam uns pelos outros, são criaturas desconhecidas com alma desvalida de esperança, sem ânimo e sem ninguém. Repara lá fora... Quantas mães sozinhas em seu mundo de esperanças mortas, em nome do Senhor, rogam na linguagem das mãos um Natal feliz. Ah!... Repara lá fora... Repara bem com os olhos do coração... Aqueles a quem você vê, são anjos desconhecidos. São pretos, são pardos, são brancos. São todas pequeninas criaturas que sem a escolta do pai e da mãe, buscam não lhes importando onde, um canto piedoso e feliz. Tudo hoje é um Natal diferente. Aquele Natal que os velhos dele ainda se recordam, de há muito se transformou em falantes em portas de comércio, se transformou em um alguém que dentro de uma roupagem extravagante, trejeita e beija forçado, ricas crianças para levar em troca aos seus, a alegria de “Um Natal pobre, mas feliz”. Faz muitos anos. Com luvas pretas e carvão no rosto, ao lado de um carrinho com um boneco de pano, ante tantos pais e mestras na grande sala do Grupo Escolar de Jardinópolis, com a timidez própria da dos meus dez anos, fremindo de errar, cheguei ao final do soneto que ainda o tenho vivo na lembrança: — * “Os filhos deles meu amor, tem tudo./ Joias, brinquedos e vestidos finos,/ Envolvidos nas rendas e no veludo, /são belos intangíveis e divinos./ E tu meu filho, assim quase desnudo,/ exposto ao léu às fúrias do destino, /não tens sequer, um sapato rudo,/ para os teus pés gelados e franzinos./ Durma meu filho nesses rudes braços,/ cheios de calos e de cicatrizes,/mas nunca se vergaram de cansaço./ Espera filho... Espera um pouco mais. / Todos os lares hão de ser felizes,/ todos os berços hão de ser iguais.” Ah, poeta!... Que pena... Desde então, dorme surda na ilusão da tua esperança, essa igualdade universal e bela. Que pena!... Se o homem de ontem não te ouviu, muito menos, O homem do Natal de hoje.
*“ Todos os lares hão de ser felizes.”- Autor, sem mais lembrança.
(*) manoel_ marta@hotmail.com