Um convite do Rotary Uberaba Leste para fazer uma reflexão sobre a Abolição da Escravatura instigou-me a rever a História contada para minha geração e que, em síntese, resumiu-se na vinda e vida dos escravos, suas contribuições culturais, os castigos que recebiam e no endeusamento da Princesa Isabel, com sua caneta de ouro.
Pesquisando a respeito, descobri que a Lei Áurea constou de somente dois artigos e que, nesta “simplificação”, não previu o futuro dos alforriados, direitos trabalhistas, moradia, trabalho e nem educação para seus filhos.
Com isso, ganhou-se liberdade e, junto com ela, a condição de “vadios”. Os ex-escravos ficaram vagando a esmo, vigiados e punidos por qualquer deslize, inclusive com “direito” a prisão exclusiva para negros.
Passados cento e vinte e dois anos da Abolição, muita coisa mudou, mas, na essência, o seu legado tem sido mais peso do que prêmio.
Apesar da afirmativa de que no Brasil não há racismo e ainda ser desconfortável colocar o dedo nessa ferida social, as piadinhas jocosas, apelidos e expressões pejorativas correm soltas.
Os melhores postos de trabalho ainda são reservados aos brancos. Onde estão negros bancários, revendedores de concessionárias, balconistas de lojas conceituadas, executivos e profissionais liberais em Uberaba?
A exceção ainda fica para os cargos providos por meio de concursos e onde nossa competência não pode ser questionada. De resto, muitos só nos julgam bons se com “o pé na cozinha”, no futebol e no samba ou pagode.
No campo das relações amorosas, os negros tidos como “bem-sucedidos” não escolhem mulheres negras para constituir família...
Quem conhece minha trajetória pode perguntar do que estou “reclamando”. Reconheço que transito por espaços pouco ocupados por pessoas negras e isso aumenta minha responsabilidade em relação àqueles que não possuem voz para expressar seus pensamentos. Não falo por mim, falo por todos eles e elas!
Termino ressaltando a importância do Dia da Consciência Negra que resgata a verdadeira História de nossas lutas e resistências omitidas pelas classes dominantes.
E para quem não entende a origem do preconceito racial, recomendo dois vídeos curtíssimos mostrando um teste psicológico americano da década de 40, que utiliza bonecas brancas e negras para crianças fazer determinadas escolhas e que se aplica à realidade brasileira quando replicado. Os endereços sã https://www.youtube.com/watch?v=PKqSPf-hKR4 e http://zumbidospalmares-cp.blogspot.com.br/2011/02/teste-da-boneca-racismo-na-infancia.html
Vocês vão se surpreender e, depois, se quiserem, me contem o que acharam...
(*) Professora e Mestre em Psicologia Clínica; presidente do Instituto Renovare/Cemae (Centro de Estudos Sobre a Morte e Apoio a Enlutados)