Uma rede de televisão quer saber qual é o maior brasileiro de todos os tempos
Uma rede de televisão quer saber qual é o maior brasileiro de todos os tempos. A escolha é complicada. Dentre outros problemas, a tendência é que recebam mais votos personalidades dos tempos hodiernos, cuja vida e obra sejam do conhecimento dos eleitores, e que sejam esquecidas aquelas que foram conhecidas apenas das aulas de História.
Assim, é possível que recebam mais votos políticos, atletas, empresários, cientistas, artistas, humoristas de plantão e outros profissionais atuantes que lutam por seus ideais e acreditam num Brasil melhor. Não se sabe se haverá o reconhecimento dos historiadores quanto a esse trabalho.
Portugal, em 2007, escolheu Salazar como o maior português de todos os tempos, numa pesquisa de opinião similar encomendada pela rede de TV portuguesa RTP. Houve muito descontentamento. Num jornal de grande circulação naquele país, um jovem português, que teve a mãe torturada e morta por Salazar, desabafou que aquele não poderia ser o maior português.
Como primeiro-ministro, António de Oliveira Salazar governou Portugal por 36 anos, numa época em que o Presidente de República eleito tinha função meramente cerimonial. Com austeridade e controle rigoroso de contas, conseguiu inacreditável superavit nas finanças públicas de seu país, em 1928-29, sendo chamado pela imprensa de Salvador da Pátria.
Portugal manteve a neutralidade na II Grande Guerra graças a Salazar. Em compensação a Revolução dos Cravos tirou seu nome de uma ponte suspensa (que liga a cidade de Lisboa à de Almada), hoje conhecida como Ponte 25 de Abril, embora tenha a designação oficial de Ponte sobre o Tejo.
Santo Antônio de Lisboa, Fernando Pessoa, Camões, Pedro Álvares Cabral, Gil Vicente, Marquês de Pombal (que modernizou Lisboa ao reconstruí-la após o terremoto de 1755), todos foram preteridos pelos portugueses.
A escolha de Salazar deve ter surpreendido aqueles que promoveram o evento, que não fizeram muita festa com o resultado, afinal a escolha desagradou a muitos, apesar dos feitos de Salazar em benefício dos portugueses.
São muitos os brasileiros que beneficiaram o país. E provavelmente muitos deles não serão lembrados nessa pesquisa. Que não haja decepção quanto ao resultado, como a que houve em Portugal. E que o eleito seja alguém que mereça aplausos e justo reconhecimento, inclusive de historiadores e seus pares.
(*) membro da Academida de Letras do Triângulo Mineiro