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O mordomo do Papa

No último dia seis, a justiça do Vaticano condenou

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 14/10/2012 às 13:34Atualizado em 19/12/2022 às 16:53
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No último dia seis, a justiça do Vaticano condenou o mordomo do Papa Bento XVI, Paolo Gabriele, a dezoito meses de prisão domiciliar. Motiv Gabriele furtava documentos secretos do Papa e os vendia aos jornais. Muitos dos documentos eram relativos à corrupção dentro da Cúria Romana. As desculpas do mordomo eram, para ele, justificáveis: “Não sou um ladrão. O que sinto mais fortemente dentro de mim é a convicção de que agi exclusivamente por amor, meu amor visceral pela Igreja de Cristo e seu representante aqui na Terra”. Está falando a verdade ou mentindo? Não sei. Não tenho como julgar. “Não julgueis e não sereis julgados”.

Em tempos de “mensalão”, o fato assustou muita gente. O termo “corrupção” tem uma conotação devastadora. É podridão. Mas ninguém me dá o direito de duvidar das afirmações do mordomo. Pode ser que ele tenha achado que somente revelando as tramoias curiais, ele poderia impedir consequências piores. Trata-se de uma maneira estranha de correção. E se for verdade? Talvez tenha sido. Por isso que a condenação tenha sido tão branda. Penso que prevaleceu a compaixão do Papa.

Aqueles que conhecem a História da Igreja sabem que houve, em sua caminhada, momentos reprováveis de comportamento. Talvez tenha sido por isso que o admirável João XXIII tenha afirmad “A Igreja é santa e pecadora”. Ao lado de papas verdadeiramente santos, surgem figuras detestáveis, como Alexandre VI, Leão X, Júlio II e muitos outros. Intrigas, lutas pelo poder, transações bancárias fraudulentas, comportamento imoral. E daí? Se o filho procede mal significa que a mãe não presta? O que acontece é que nos esquecemos da tessitura bivalente da Igreja e de todos nós: a luta entre o dever do bem e a atração para o mal. Nem sempre o bem prevalece. Jesus deixou bem claro quando afirmou que o joio cresce junto com o trigo e se confundem. Além disso, para a mídia, o mal é mais atraente do que o bem. Os dirigentes da Igreja são homens e, dos homens, não se pode esperar apenas o bem. Por toda a parte bandidos cruzam com santos nas mesmas estradas. Não se pode esperar da Igreja apenas bons exemplos de vida, apenas homens santos. O “mal” é uma realidade que penetra em todos os setores, corrompendo, devorando, apodrecendo. Pedro, o primeiro chefe da Igreja mentiu, negando, traindo. Teve o descaramento de afirmar “nem sequer conheço esse tal Jesus de que vocês estão falando”. Mais tarde, baseado em sua própria experiência, deu-nos um conselho de sábi “Sede sóbrios e vigilantes. Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão, procurando a quem devorar”.

Se minha Fé depender do comportamento de muitos homens da Igreja, minha luta se torna inútil e sem sentido.

Se o mordomo cometeu um erro irreparável, o problema é dele. Se os homens que rodeiam o Papa não enxergam o leão que os rodeia, o problema é deles. Eles serão julgados por Deus. Quanto a mim, quanto a você, cuidemos de nós mesmos, sendo para os outros exemplos de fidelidade, de correção de vida, de compaixão para com os que erram. E cuidado com o “leão”!

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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