ARTICULISTAS

O mundo está uma droga!

Se existe um assunto que me irrita e assusta é falar de drogas e drogados

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 28/07/2010 às 21:04Atualizado em 20/12/2022 às 05:12
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Se existe um assunto que me irrita e assusta é falar de drogas e drogados. Em várias crônicas já contei a razão destas implicâncias, sobretudo porque nada foi ou é feito para entender e tratar este que para mim é o câncer da nossa sociedade. Conto e repito dramas que me aparecem a toda hora. Exemplo de repetiçã a Valdete, negra gordinha que já foi ponteira aqui na escola de samba da Santa Maria, está se preparando para morrer. Um pouco da sua historia: há uns dois anos, seu neto mais velho foi fuzilado por traficantes.

O neto seguinte, ela me contou agora, está no mesmo e conhecido caminh rouba e vende os trastes da casa, é um craque no assunto. Agora, sem grana para comprar seu remedinho, serve de vendedor para seu traficante. No simples dos casos, entrou na reta final: drogado, já não vende sua cota e ainda fuma o que pode. Nesta semana, conta novamente a Valdete, recebeu o aviso prévi ou vende mais ou vai ser “despedido”. Por despedido, no território da droga, significa que vai comer capim pela raiz, como simplificaram os donos do negócio. Deixar que ele vá à polícia e conte... nem pensar, a morte certa será apenas mais dolorosa.

Taí o novo – e repetido – episódio de Valdete e seus netos. A pressão dela vai a vinte, ela desmaia ali na igreja, eu acudo, o padre e a Maria José acodem, ela melhora apenas para chorar o que já passou e o que vai passar ali adiante... ela sabe. E daí, meus bons e amigos leitores? E também sei, vocês sabem, toda a sociedade sabe. A polícia, os juízes, todas as estruturas políticas do Brasil igualmente sabem – mas ninguém faz nada. Um grupo tem medo, não quer se envolver. Agora, só pra chatear e ficar chateando, estamos em clima político pré-eleitoral. Os candidatos se agarram e se agridem – sem medo. Companheiro, você viu algum candidato frequentar – ou passar – por uma das inúmeras e conhecidas bocas-de-fumo?

Falam dos outros candidatos e partidos, prometem verbas e realizações de toda sorte, coisas que não vão mesmo cumprir. Subam comigo as escadas: qual o candidato a governador ou presidente, a senador ou deputado tem coragem de enfrentar a droga? Nada e nenhum, e eu penso com suspeita: será que ele tem medo, ou será que ele é sócio? Inútil esperar. Já contei e escrevi: o projeto antidroga é inútil pelas fazendinhas e psicoterápicos de internação – uma palhaçada que apenas em raros casos dá resultado definitivo.

Repito mais uma vez a minha receita: enquanto existirem os traficantes (e seus sócios...) a droga vai continuar matando. Prisão? Vale nada, até lá dentro entram celulares e sócios. Minha receita, já escrevi, nasceu da lei seca nos Estados Unidos, onde morriam aos montes seus participantes. Aplicá-la às drogas por aqui: liberar o seu uso como foram liberados os psicotrópicos. O drogado viciado se confessa, vai à sede pública, inscreve-se usuário e todo mês vai à farmácia federal receber a “receita azul” de sua droga, que paga ao Governo por preço mínimo (morte à traficância!...). Fica conhecido, talvez até envergonhado socialmente – e estimulado a abandonar a pecha e estigma de usuário. Pode até virar bom partido, ao invés de pagar sua partida precoce para o outro mundo. Ah, se eu tivesse mais espaço e poderes interessados...

(*) médico e pecuarista

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