Na hipótese de um olhar de Deus sobre o que acontece na terra, não imaginamos o que Ele consegue enxergar, principalmente no Brasil dos últimos tempos. Certamente, ficaria decepcionado com o grau de deterioração provocado pelas atitudes inconsequentes presentes em todos os ambientes e realidades do extenso território nacional. Destruição generalizada nas diversas esferas da Nação.
As consequências da destruição são drásticas, porque causam sofrimento para todos. No dizer do apóstolo Paulo, “Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele” (ICor 12,26). Vemos muita coisa errada por causa da má conduta de muita gente. Há tanta coisa que deve ser restaurada para recuperar a dignidade das pessoas atingidas em suas bases estruturais.
Sabemos que o olhar de Deus tem a marca da misericórdia, mas também as exigências do compromisso de responsabilidade na condução da criação. O mundo está em nossas mãos e ele deve ser cuidado com carinho e determinação. Podemos dizer que Deus olha para nós com a expectativa de que a vida seja respeitada através da construção do bem e do valor que damos às coisas criadas.
O olhar de Deus se encarnou na Pessoa de Jesus Cristo, Deus feito Homem para resgatar o homem e a mulher de suas mazelas. Para isso Ele tem que ser conhecido e identificado como o próprio Deus no meio do povo. Não pode ser um Deus distante, que não compromete e causa vazia no ser humano. Por Jesus passa o caminho da restauração pessoal e a confiança em dias melhores.
Não basta ter fé para enxergar o olhar de Deus sobre o mundo. Isso significa dizer que a “fé sem as obras é morta” (Tg 2,17). Essa forma de ver passa pelo olhar que nós temos sobre os pobres e marginalizados, porque eles têm os traços sofredores de Cristo, neles está a presença viva de Deus, e pelo trabalho que realizamos para tirá-los da condição em que vivem.
É preciso entender quem é Jesus para dimensionar o olhar do Pai pelos seus filhos. O Filho de Deus foi rejeitado e morto na cruz como um malfeitor. Esse cenário revela as contradições contidas no meio da sociedade daquele tempo e que se modernizaram nos tempos atuais, porque Cristo continua morrendo na vida de muitas pessoas através dos gestos modernos de violência.
(*) Arcebispo de Uberaba