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O ousado pedido de Cristina Kirchner

Havia a impressão de que a recente visita de Cristina

Aristóteles Atheniense
Publicado em 04/04/2013 às 20:14Atualizado em 19/12/2022 às 13:51
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Havia a impressão de que a recente visita de Cristina Kirchner ao Papa Francisco visava, em princípio, a melhorar o relacionamento do ex-arcebispo de Buenos Aires com a Presidente argentina.

Anunciada a sua ida a Roma, nenhum dos vaticanistas chegou a admitir que a finalidade do encontro fosse outra, a não ser a justificada manifestação de regozijo pela investidura de um portenho nas elevadas funções que ia exercer.

Mas não foi o que ocorreu. Após a entrevista, na véspera da Missa Solene, que marcaria o início do novo pontificado, Cristina arvorou-se em diplomata na crise das Malvinas e, astuciosamente, encareceu a mediação do Santo Padre “para iniciar um diálogo entre as duas partes”.

É evidente que esta iniciativa tinha por escopo, também, desmoralizar o resultado acaçapante que a Argentina conheceu no plebiscito realizado nas Malvinas, quando os seus habitantes optaram, em expressiva maioria, em permanecer sob o domínio britânico.

Ao comentar a visita feita ao Papa, aduziu que, agora, mais do que antes, tornou-se passível o acordo, pois a Argentina “é um país mais do que pacífico”, vivendo como o Reino Unido num regime democrático.

Assim como João Paulo II atuara como mediador no conflito entre Chile e Argentina, na disputa ao estreito de Beagle, o Papa recentemente investido, também, poderia atuar agora na pacificação entre a Argentina e Grã-Bretanha, como ocorrera no passado.

A sua justificativa não convence. É o caso de indagar: se o atual Pontífice não fosse argentino, mas oriundo de qualquer outro país, o Papa continuaria sendo a pessoa indicada para evitar a refrega, como sucedera a João Paulo II? Qual o motivo que teria impedido o governo argentino de tentar a mesma solução junto a Bento XVI?

Em 22 de dezembro de 1978, foi a Argentina que promoveu a invasão do Chile, em bombardeio, marcado para as 22 horas daquele dia, sendo declarada internacionalmente país agressor.

Isto convinha ao ditador Jorge Rafael Videla, que visava a combater as denúncias de violação de direitos humanos, praticadas sob o seu comando.

A realização da Copa do Mundo com a suspeita vitória da Seleção Argentina serviu de impulso ao fortalecimento nacionalista, sustentado por Videla. Assim, para o governo militar faltava apenas o inimigo externo como fator da união nacional.

O Chile tornou-se, assim, “a bola da vez”, já havendo anteriormente tido o seu direito reconhecido em outra arbitragem cumprida pela rainha Elizabeth II, em 1977, que considerou como chilena a posse das três ilhas em litígio.

A arbitragem cumprida pelo Papa João Paulo II (que a presidente Kirchner adotou como exemplo) deu-se apenas três horas antes do horário previsto para o início do ataque argentino.

Fica a certeza de que o espírito belicoso dos argentinos ainda subsiste em relação ao Chile, inobstante o Tratado de Paz e Amizade, celebrado em 1984.

Compreende-se, pois, a razão pela qual o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, não difundiu nenhum comunicado sobre a inoportuna e ousada proposta da mandatária argentina. Limitou-se, apenas, a afirmar que o diálogo fora “muito formal”, consistindo na troca de uma rosa branca – de parte do Papa – por uma cuia de chimarrão e um ponche “para sua Santidade se proteger do frio”...

(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB

Twitter: @aatheniense

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