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O pão nosso de cada dia (1)

Dias atrás, o Jornal da Manhã publicou um artigo de minha autoria

Valter Machado da Fonseca
Publicado em 22/05/2011 às 13:19Atualizado em 20/12/2022 às 00:10
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Dias atrás, o Jornal da Manhã publicou um artigo de minha autoria, intitulado “A mídia e o veneno que nos servem à mesa”, que fez muito sucesso. Prova disso é a quantidade de e-mails que recebi de diversas partes do país e até do exterior (Portugal, Argentina, Espanha). O objetivo desse artigo não é discutir o sucesso de meu texto. Citei o fato, pois ele nos remete a algumas importantes reflexões. Os e-mails recebidos mostram a relevância dos temas “saúde”, “obesidade”, “alimentação saudável”. Demonstram ainda a preocupação de parte da população [que não aparece nas estatísticas oficiais] em relação à saúde. Então, resolvi dar continuidade às reflexões sobre esta relevante temática. Enviarei ao JM uma série alternada de contribuições sobre este assunto.

Hoje tratarei de um assunto bastante polêmico e que vem sendo, sistematicamente, discutido nas grandes rodas de pesquisas científicas das áreas de saúde humana: a transgenia ou melhoramento e/ou clonagem de espécies vegetais e animais. Nas últimas décadas, o avanço das técnicas de engenharia genética colocou em foco a questão da transgenia, isto é, a produção de organismos geneticamente modificados (OGM). Um OGM é um ser vivo obtido ao se introduzir, em uma espécie biológica, de forma estável e hereditária, um gene mediante mecanismos de DNA recombinante, o que implica no fato de que, pela primeira vez na história, a transmutação de genes permitiu romper a barreira entre as espécies.

O Conselho de Informação sobre Biotecnologia – CIB (2004) informou que, em 1994, o primeiro transgênico chegou às prateleiras dos supermercados: um tomate, desenvolvido para ter mais sabor do que o comum e suportar maior tempo de armazenamento. No ano seguinte, a primeira variedade de soja transgênica foi introduzida no mercado. Estas evidências mostram somente a “ponta do iceberg”, hoje, além do tomate e da soja, diversas espécies geneticamente modificadas têm sido colocadas nos varejões e prateleiras dos supermercados à disposição dos consumidores. Grande variedade de produtos “vistosos e bonitos” é colocada, diariamente, à nossa disposição no mercado, a exemplo de hortaliças, legumes, grãos e carnes de todos os tipos. Agora, além de nos preocuparmos com os herbicidas/pesticidas lançados sobre os alimentos e depois infiltrados no solo, contaminando-o juntamente com as águas, temos que nos preocupar ainda com aquilo que a gente não vê, pois ocorre em nível de DNA: a transgenia de alimentos.

E, por trás de todas essas experiências, da qual as cobaias somos nós mesmos, existem os grandes grupos multi/transnacionais, que a cada dia ficam mais bilionários à custa dessas experiências com a saúde humana. Eles controlam todo o processo produtivo da indústria agronômica, farmacêutica e de alimentos. Os pequenos produtores ficam à sua mercê, pois dependem deles para a aquisição de sementes [já que não adianta selecionar os grãos, pois eles não têm mais potencial germinativo], aquisição de insumos, pesticida, herbicidas, dentre outros agrotóxicos.

Isto impede que os pequenos produtores pratiquem a agricultura de subsistência e/ou familiar, devido ao grande cartel oligopolista, formado pelos gigantes genéticos, os quais estipulam preços incompatíveis com as práticas dos pequenos produtores, uma vez que esses preços são estabelecidos para atender a realidade da monocultura voltada para a exportação. Enquanto o homem brinca com pesquisas sérias, em troca do lucro, nós assistimos à volta de doenças antigas e o surgimento de novas. Assim, vamos deixar para os nossos filhos e netos um monte de doenças, alimentos artificiais e pragas, decorrentes da ganância humana, muitas vezes chamada, equivocadamente, de “progresso e desenvolvimento”. Neste sentido, alguns poucos grupos ganham fortunas à custa do sofrimento, miséria e morte de grande parcela da população, principalmente os mais humildes.

(*) Escritor, técnico em Mineração, graduado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia, mestre e doutorando em Educação também pela UFU, pesquisador da área de “Alterações climáticas”, professor da Universidade de Uberaba – Uniube

 

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