Nossa memória, um tanto desgastada pelos anos, ainda guarda resquícios de visitas de alguns papas ao Brasil. Numa delas, quando a televisão só captava imagens em preto e branco, emissoras acompanharam a visita do papa ininterruptamente. Minha filha primogênita, na época bem novinha, exclamou chateada, já cansada daquela imagem: “Na televisão só tem o homem de branco!...”
Numa das visitas de João Paulo II ao Brasil, organizaram-se várias caravanas uberabenses para vê-lo em Belo Horizonte, no local hoje conhecido como Praça do Papa. Uma dessas caravanas foi dirigida pelo inesquecível Frei Adalberto Tarallo, vigário da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Participei desse grupo com minha família.
Chegamos a Belo Horizonte de madrugada. Céu estrelado. Nosso ônibus só conseguiu estacionar bem distante da praça, por isso tivemos que fazer longa caminhada. Havia um mar de gente. Já na praça tivemos que caminhar por entre pessoas que aguardavam o evento, dormindo na grama. Talvez tivessem passado a noite toda ali. Era impossível caminhar sem esbarrões. O silêncio era incrivelmente respeitoso ao sono dos cansados peregrinos! Isso até o sol despontar e começarem os preparativos para a missa.
O papa foi saudado efusivamente pela multidão. No ofertório da missa houve grande participação de fiéis e, mesmo de longe, identificamos um uberabense participando das oferendas. Na homilia, o papa pregou em português. E em tom festivo e solene, homenageou, encantado, o nascimento do dia na capital mineira, exclamand “Que belo horizonte!”. Aplausos ecoaram na enorme praça. Aquela foi realmente uma viagem de paz e amor.
Na vinda do papa argentino Francisco ao Brasil, por enquanto, temos o prenúncio de passeatas de protestos. De novo, contra gastos públicos. Milhares de jovens, do mundo inteiro, estão no Brasil para ver e ouvir o papa e espera-se que, através deste encontro com a juventude, a fé seja robustecida. Entretanto autoridades estão apreensivas. Queriam que o papa usasse o papamóvel, com vidros blindados. Mas Francisco deseja contato com o povo. Quer, inclusive, visitar uma casa de favela. E deseja que, em seu pontificado, os pobres sejam os mais beneficiados.
Indiscutivelmente o papa já operou um grande milagre: fazer brasileiros admirarem um argentino. E, com a coragem com que enfrenta os desafios no Vaticano, o papa deixa transparecer a certeza de que promoverá mudanças benéficas na Igreja. Que Deus ilumine e proteja o nosso papa!
