ão faz muito tempo, vi numa livraria, já com muito atraso, uma nova edição do livro de Saint-Exupéry...
Não faz muito tempo, vi numa livraria, já com muito atraso, uma nova edição do livro de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe. As aquarelas do autor são as mesmas e a tradução é a mesma, a de dom Marcos Barbosa.
Hoje é um livro pouco lido, infelizmente. Poucos o conhecem, mas nem por isso deixa de ser uma obra-prima da literatura. Foi livro da moda nos velhos tempos dos concursos para Miss Brasil. As candidatas, cuja leitura não ia além da revista Contigo, para fingir conhecimentos, sempre diziam que sua leitura predileta era o Pequeno Príncipe.
Aparentemente, é um livro para crianças, mas, na realidade, é um livro para adultos. Não para qualquer adulto, mas para adulto inteligente. Não são todos que percebem o sentido profundo daquela estória daquele principezinho vindo de um outro planeta e perdido num grande deserto. O autor deixa bem clar “Não gosto que leiam meu livro levianamente”. Genialmente, são feitas considerações subliminares sobre os adultos que deixam fugirem de seu interior os valores profundos da alma humana: “Se você disser às pessoas adultas: eu vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa com gerânios nas janelas, elas não conseguirão imaginar essa casa. É preciso dizer-lhes: é uma casa de cem mil francos”. Os gerânios nas janelas não são importantes. O que dá sentido aos valores deles é o valor da casa. Morar bem significa morar ricamente, com piscina aquecida e “home theater”.
Amor, amizade, lealdade, nada significam. Aquele principezinho, vagando, encontrou-se com uma raposa. Ele a convida para brincar. Ela se nega, ele ainda não a cativou. Ele ainda é indiferente para ela. Ainda não são amigos. Ainda não há “laços”. “Ainda não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”
Hoje não somos mais cativados (aprisionados) uns pelos outros. Importantes são os títulos, os rótulos, o poder. A ostentação obscurece-nos o interior e o que é realmente importante dentro de nós.
Padre Prata