ARTICULISTAS

O pior mal da ditadura

João Eurípedes Sabino
forumarticulistas@hotmail.com
Publicado em 28/03/2014 às 11:23Atualizado em 19/12/2022 às 08:26
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Lembro-me que o tempo estava embruscado com as nuvens a baixa altura. A “meteorologia” indicava que havia mal tempo e algo iria acontecer envolvendo toda a nação brasileira. Eram os dias anteriores ao golpe de 31 de março de 1964. Eu, um adolescente, jamais poderia prever a vinda de um pesadelo que iria durar 21 anos.

Recordo-me de ver a megaconcentração de pessoas no centro da cidade se deslocando lentamente sob o pálio do lema “Marcha com Deus pela liberdade”, patrocinado pela igreja católica. Nada mais inovador e “sugestivo” para aqueles dias nebulosos, já que o presidente João Goulart, debilitado politicamente, sofria pressões de todos os lados numa orquestração interna e externa regida pelos Estados Unidos. Tropas americanas ficaram acantonadas em porta-aviões na costa brasileira, prontos para desembarcar. E nós, pobres mortais, até bem pouco tempo achávamos que o golpe foi obra apenas de brasileiros. No dia 1º de abril daquele ano, acordamos com tudo mudado.

Descobri depois que ilustres figuras apoiadoras da quartelada mudaram de lado tão logo viram que os tomadores do poder não lhes deram a “mamadeira”.

Rememoro que ao sair à noite do Colégio Osvaldo Cruz, então instalado no Grupo Escolar Minas Gerais, fui tomado pela surpresa ao ver, na data do meu aniversário, militares com uniforme de campanha, capacetes de aço, mochilas, etc. Fuzis ensarilhados ficaram expostos nos paralelepípedos inicias da rua São Benedito. Passamos a conviver com o temor, assistindo à derrocada do sagrado Estado de Direito.

Quando ouço algumas perguntas do tip e os militares não fizeram algo de bom? Respondo que sim, mas governar uma nação há que se ter, além da inteligência e disciplina, o pendor com o devido preparo para tal. E a violência que não existia? A corrupção também, e hoje, ambas correm soltas? Simplesmente me posiciono que o excesso de poder concentrado num governante só se sustenta pela desinformação do povo e na psiquiálise que entorpece o seu entendimento. Esse é o pior mal da ditadura e me entristeço em saber que, de forma sutil, o infiltraram nas entranhas de minha mente.

O que nos é dado a fazer? Recordar que 50 anos passaram como se o 31 de março ou 1º de abril de 1964 tivessem ocorrido ontem. Outros 50 anos virão e quiçá venham com liberdade, embora tenhamos tanta dificuldade para conviver com ela.

E que possamos publicar poesias em lugar de poesias e não usá-las para encobrir notícias, como fez tantas vezes a censura.

 

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