Diante dos Mandamentos divinos, o amor tem uma vertente de primazia fundamental, até como dualidade de uma mesma moeda, que é “amar a Deus e amar o próximo”. Esse princípio, confirmado publicamente no Evangelho por Jesus, não foi praticado de forma precisa no Antigo Testamento, mesmo diante de uma exigência tão determinante pelos fariseus no cumprimento legalista da Lei antiga.
Hoje nós somos desafiados na prática do verdadeiro amor, porque depende de fidelidade ao Senhor, condição fundamental para receber de Deus as bênçãos prometidas. Acontece que agimos com um formato de infidelidade e fechados para as realidades do alto. Há muita falta de temor e de adesão ao projeto bíblico, capaz de gerar vida em abundância, com fecundidade e longevidade.
Numa cultura de fortes polarizações ideológicas extremistas, onde as pessoas não conseguem agir de modo equilibrado, os ânimos ficam agitados e à flor da pele, dificultando muito o exercício do primado do amor. O que estamos vendo é a evidência dos interesses pessoais e de grupos, pouco abertos para as riquezas do amor fecundo de Deus, que envolve a interioridade e o agir humano.
O ideal e modelo de amor perfeito encontramos em Jesus Cristo, o sumo e eterno sacerdote que, obediente e cumpridor do Projeto de Deus-Pai, entregou sua vida no madeiro de uma cruz, como expressão maior de doação, abrindo caminho para a viabilidade do amor. Não pode ser uma prática de egoísmo, de vir a nós sem ir ao encontro do outro, mas de despojamento possível de vida.
São fortes as oposições aos que lutam num amor coletivo, interpretado como ação social e política, que leva pessoas a se emanciparem de amarras que as impedem de ser livres e felizes. É um processo de conscientização para que cada indivíduo seja agente de seu próprio caminho. Os profetas do passado, como também os de hoje, são estigmatizados no exercício de profetismo.
Diante do legalismo vigente, Jesus foi interrogado sobre o sentido das inúmeras leis judaicas. Ele pontua o primado da lei do amor em dupla dimensão e como elemento essencial para a fé cristã: amar a Deus e amar o próximo. Sem isto, as demais leis do Decálogo tornam-se infecundas e sem efeito para a pessoa. Na prática do amor encontramos o paradigma do agir cristão no mundo.
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba