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O Príncipe: breves considerações

Estimado leitor, Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e conselheiro político

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 17/10/2010 às 15:43Atualizado em 20/12/2022 às 03:44
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Estimado leitor, Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi diplomata e conselheiro político da cidade italiana de Florença, numa época em que ela estava ameaçada por crises internas, mas também pelos reinos vizinhos, que não hesitavam em se aliar a outros países, como a França e a Espanha, para derrubar o governo florentino.

Para evitar esse tipo de crise política, Maquiavel escreve, em 1513, sua mais importante obra: O Príncipe. Nela, o pensador italiano dá conselhos ao governante de como conquistar o poder e se manter nele, tendo em vista que muitos príncipes tinham reinados de menos de 90 dias, criando enorme instabilidade política. Podemos, também, ler O Príncipe como uma maneira que o filósofo encontrou de contar ao povo as artimanhas do poder.

Maquiavel rompe radicalmente com toda a tradição da filosofia moral e política, justamente porque ele separa completamente a moral da política. Seu objetivo não é comparar os méritos dos diferentes regimes nem se interrogar sobre as virtudes do homem político.

Entretanto, não podemos dizer que, para Maquiavel, todas as práticas políticas têm o mesmo valor: deixar-se invadir, cair sob o golpe de potências estrangeiras são políticas condenáveis, porque levam à ruína do Estado. Essa é, aliás, a tarefa histórica de O Príncipe: fundar o Estado, dar-lhe solidez, criar uma instituição que não desmorona. Por isso, o critério de validade não é o da legitimidade, e sim o da estabilidade política.

Diante disso, não pode ser o príncipe um teórico. Cabe ao governante intervir de modo efetivo nos rumos políticos que seu governo esteja tomando, uma vez que sempre defrontará com conjunturas singulares. Isso revela um paradox O Príncipe é um tratado teórico que insiste precisamente na ideia de que as grandes teorias não permitiriam governar, que a política é, antes de tudo, uma arte prática.

Vejamos as principais ideias debatidas por Maquiavel. No primeiro capítulo, ele classifica os tipos de principados: hereditários, novos, conquistados. Do capítulo 2º ao 11º, Maquiavel discute como cada um desses tipos de principados podem ser adquiridos, conservados e, eventualmente, perdidos. Do capítulo 12º ao 14º, ele trata especificamente da questão militar, condenando os principados que mantêm os Exércitos formados por mercenários. Do capítulo 15º ao 23º, Maquiavel diz a respeito de como o príncipe deve se comportar na relação com seus súditos e com seus amigos, e os cuidados necessários para se manter no poder. Nos últimos capítulos, ele trata da formação do estado italiano propriamente dito.

Uma das ideias mais polêmicas trazidas por Maquiavel nesta obra é a de que o príncipe deve tornar-se senhor do imaginário que ele suscita. A arte do príncipe não é ser virtuoso, mas ser sem qualidade, saber aparecer com as qualidades apropriadas no momento oportun saber ser bom quando pode sê-lo e ser cruel quando for preciso.

Dessa forma, ele não deve prender-se a princípios, mas usar da astúcia, por que o importante não é respeitar as leis e as tradições, mas fazer parecer respeitá-las. Muito menos deve tentar ser amado, uma vez que o amor é sentimento, segundo Maquiavel, pouco durável. No lugar deste, deve o príncipe suscitar o temor, sentimento mais duradouro e mais apropriado à prática do poder.

Bom domingo a todos.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM mailtmozart.lacerda@uol.com.br

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