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O que será que falou?

Já tivemos oportunidade de manifestar que não há dúvida que os animais conversam

Manoel Therezo
Publicado em 25/02/2012 às 19:15Atualizado em 17/12/2022 às 08:34
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Já tivemos oportunidade de manifestar que não há dúvida que os animais conversam e se entendem. Certa ocasião, um acontecimento me fez concluir que não só conversam como também até se ofendem. Temos algo distante de onde moramos, uma garagem que por lá às vezes, lavo o meu carro. Ao meu lado, uma cachorrinha já bem velha mais ainda danada de esperta, se punha deitada preguiçosamente no cimento fresco. Ali, também, era a sua casa com muito conforto, que não descuidávamos disso. Ficava ao meu lado. Ora dormia, ora chegava bem perto de mim, certamente à busca de carinho. De carinho, até me parecia fanática, o que às vezes lhe valia um chega pra lá. Os outros cachorros lá na esquina latiam demasiadamente. Latiam tanto que até aborreciam aos ouvidos humanos. De quando em quando, ela levantava a cabeça acomodada no cimento fresco para ouvi-los melhor. Aqueles latidos são compreendidos por eles. Não há dúvida que constituem uma linguagem. Conversam alto... Não se importam. Só eles entendem o que estão falando. Por vezes aqueles latidos me intrigavam. Para ela, não. Permanecia sonolenta. Os latidos continuavam. Para os meus ouvidos, apenas eram barulhos. A gente pensa ser assim, mas de acordo sei lá com o quê, a danada da pachorrenta se levantava e ia para a esquina latir também. Voltava toda serigaita, bem perto de mim, como se quisesse me contar o que acontecia. Um de novo chega pra lá para ela até decepcionante, determinava ir para onde antes estava. Eu me interrogava: O que será que estão falando? Acreditar que latiam por coisa sem sentido não era possível. Se isto fosse, a cachorrinha pachorrenta em dados instantes, não se desacomodava e em desabalada carreira, e ia para a esquina latir também. O que mais me chamou a atenção de tudo isto que falei, foi algo surpreendente. A cachorrinha depois que voltou lá da esquina onde havia ido latir, já quase dormia no cimento ao meu lado bem em frente do portão aberto. Um daqueles que na esquina latia, ao passar pela garagem, latindo lhe falou alguma coisa que ela não gostou. Levantou-se furiosa e valente como sempre foi, avançou naquele magrelo preto. A briga começou. Tomei partido em favor da cachorrinha, lógico. Depois de tantos gritos e que tudo serenou, voltamos para a garagem. Eu continuei o meu passatempo e ela lambia os lugares por certo feridos naquela briga. Fiquei pensand O que será que o magrelo lhe falou? Nunca fiquei sabendo. Tempo depois, o maldito câncer que a eles também não perdoa, deve ter acabado com cachorrinha, nossa amiga. Não tive a coragem de assistir aqueles homens das Zoonoses que a levaram e não mais a trouxeram para a garagem, sem mais notícia. Dela, ainda, existem naquele cimento que um dia se fez para corrigir defeitos, as marcas afundadas de seus pés que pisaram sem saber, que ali ficava para a nossa saudade, a lembrança de uma cachorrinha que paciente esperava por nós, naquela alegria que só os cachorros sabem demonstrar. Pulava em nossas pernas quando o portão da garagem se abria. Hoje, não sabemos onde ela pode estar... A saudade dela sim... Dentro dos nossos corações.

(*) Odontólogo; ex-professor universitário (Odonto Uniube)

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