Estou chegando de um passeio ainda permitido pela Argentina e seu satélite Uruguai. Uma fuga do carnaval, podem pensar – o que tem alguma razão. Entretanto, levei comigo aquele sonho esquecido das milongas e aquele par dançando um tango como só eles conseguem fazer.
O prazo de oito dias é insuficiente para lembrar-me de tudo que por lá existe – mas é suficiente para saber que as coisas são outras, e estão muito mudadas. Há dez anos os cabarés argentinos estavam lotados, suas danças e seus tangos impressionam no som do bandoneon – aquela saudosa e artística sanfoninha do povo do sul.
As coisas mudaram, companheiro. Aquele aspecto festivo está em plano secundário, aquela alegria e superioridade dos artistas diminuíram muito, alguns cabarés e danças trocadas pela necessidade de ganhar a vida, por vezes na venda de artigos nas ruas centrais. Importante para mim e nosotros do Brasil é ver que aquela superioridade altiva não é mais aquela imponência e superioridade. Em todo lugar os habitantes estão casmurros, quase tristonhos com o destino atual e escuras nuvens da sua economia. O Brasil, para eles, navega por mares da felicidade financeira.
Todos ignoram que por aqui as coisas ainda estão nebulosas, serão medidas pela política e resultados da presidente Dilma. Os desastres e violências em nossas principais ruas e avenidas estão acobertados pela orgia financeira dos grandes empreiteiros, pela corrupção nos bastidores e borracha governamental apagando no quadro negro os escândalos aprovados e logo apagados. Para nós, brasileiros, a fama argentina é boa em seu fracasso – que o Brasil deverá cuidar proximamente.
O Uruguai, em Montevidéu, assustou-me ainda mais: imaginem que em suas ruas e lojas não aceitam a moeda REAL do Brasil. Caramba, pensei, um paisinho pequeno e desimportante não quer saber do real... Tenho na carteira 40 reais que recusaram numa cervejaria. É, meus amigos: nós podemos não estar lá em cima, mas eles estão bem piores!...