Os vereadores e eu subimos a arquibancada e nos dispersamos
No dia 3 de maio de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva, quando Presidente da República, visitou Uberaba pela primeira vez para inaugurar a 69ª ExpoZebu, da ABCZ. Ele e nós brasileiros estávamos em plena lua de mel com a sua posse, que havia ocorrido a 1º de janeiro daquele mesmo ano. Quem não queria ver Lula de perto?
Por ocupar um cargo oficial, recebi as credenciais para estar no Parque Fernando Costa naquela ocasião e me dirigi ao recinto usando trajes de acordo com o protocolo. No portão monumental me encontrei com cinco vereadores da nossa Câmara Municipal e juntos rumamos para o palanque das autoridades. Ao sopé da arquibancada havia um segurança do tipo espadaúdo, barrando a todos e checando as suas credenciais.
O brutamontes aprovou a minha entrada, e os cinco edís, por não ter credenciais, foram impedidos de passar daquele ponto. De nada adiantou “carteiradas” e nem valeu célebre frase: “Nós somos representantes do povo e não podemos entrar?” E o tipo “montanha” respondeu: “Estou cumprindo ordens!”.
Diante do embargo dos meus representantes, me solidarizei com eles e pedi ao baita segurança para liberar a minha saída. Se eles não entrassem eu sairia. O impasse (para não dizer meio barraco) foi literalmente armado. Um coronel da segurança presidencial à paisana e postado em plano superior observava tudo. Logo foi chamado pelo rádio e resolveu a questã fez o favor de permitir a entrada dos vereadores ao palanque oficial. Achei aquilo um disparate!
Os vereadores e eu subimos a arquibancada e nos dispersamos. Eu estava ali para entregar ao presidente Lula uma pauta de sugestões visando o controle de obras públicas e a responsabilidade técnica de seus autores. A vereadora Marilda Ribeiro seria, e foi, a intermediária entre Lula e eu. No arco central do palanque havia um gentil segurança que levou o meu envelope à vereadora e ela, sentada entre as autoridades, acenou-me de longe com o polegar direito indicando “positivo!”. Recebi depois a resposta de Lula.
Antes de dar meia volta e sair tive a intuição de ficar ali por um minuto e eis o que me aconteceu: desgarrado do grupo, vinha caminhando sozinho e com as duas mãos nos bolsos do seu blusão de cor areia, exatamente o presidente Lula. Entre nós dois não havia ninguém e não perdi aquela ocasião memorável. Apertamos nossas mãos e selamos um abraço como se tivéssemos tratado antes aquele encontro.
Eu que sempre vi um cordão de isolamento afastando o povo dos presidentes, e mais, que a segurança presidencial é rígida até com os mandatários, não tenho algo a dizer senão que Lula dá de 10 a zero nos outros em matéria de quebra de protocolo. Não fosse esse seu estilo, este texto existiria?