Escrevo “Sport” na grafia original com que nasceu o meu time de coração. Afinal, é alguma coisa histórica e original o que vai nesta crônica. Sei que aqueles leitores habituais vão estranhar – pouca gente sabe de minha paixão pelo esporte sob todas as formas, e no futebol, pelo meu Uberaba. Nem é por falta de assunt se a gente quiser, nisto aí o Brasil e a feira do Caruaru, têm de tudo. Agora: por que escrever sobre o Uberaba Sport?
Bem, vou me explicar fácil: Chegando aos 80 anos descubro que nunca dei qualquer notícia ou informação sobre o meu time. Contei amores e ódios, prazeres e sofrimentos de toda espécie... mas esqueci do nosso time. Na história antiga, mais velha do que eu lembro, coisa que não vi, mas me contaram e eu repito para os saudosistas sobreviventes (são poucos...) e conto para os jovens ainda do futebol. Primeiro exempl o Uberaba Sport não foi o primeiro time aqui no nosso futebol. O primeiro foi o Red (vermelho em inglês, ô Dino!) que tinha um campo de futebol ali na chácara do meu pai, onde é do Vera Cruz até a loja do Babá. Centro da Cidade? Na época de menino, era longe pra cachorro.
Futebol era então coisa elitizada, jogada pela juventude rica e dourada, copiando tudo do foot-ball inglês: zagueiro era back, meio-campo era center-half, atacante era forward, gol era goal, debaixo da trave ficava o goal-keeper, e por aí vai. Imagem notícia no Lavoura, o nosso jornal: Netinho (pai do Luiz Neto..) nosso centerfor (forward...) marcou mais um gol após passar pelo half-back e goal-keeper... Bons e saudosos tempos da minha mocidade, que os ano senão trazem mais!... Bom, lá vai mais história. A turma da oposição (sempre existiu no mundo) ou da inveja (idem!) ou da novidade (ah, não existia Shopping, nem boteco de esfregas e sacanagem) jogava futebol também como razão da rivalidade.
Apoiados pela facção da tia Gabriela criaram o Uberaba Sport e a luta entre os dois times (era team, em inglês...). O pau quebrou, rivalidade sempre acaba em briga, seja entre ricos seja entre pobres. O resultado aqui foi salomônico (Din Salomão foi aquele rei judeu que resolveu a briga das duas mulheres, cada uma querendo o filho para si – e este Salomão mandou cortar o menino, metade pra cada uma... e , é claro, as duas acertaram a briga). Pois, o Red e o Uberaba combinaram e fizeram aqui um desafio históric uma partida entre os dois, o vencedor continuaria, o perdedor desistiria e até poderia ser o que então nasceu: o meu Uberaba Esporte.
Do resto, das lutas, dos tempos de brilho nacional... olhem, o Uberaba era chamado Legião Estrangeira, não pertencia a liga alguma, e recebia aqui os craques multados, brigados ou prejudicados nas metrópoles. Amigos, eu vi jogar o Romeu, estrela da seleção 1938, e Peracio, e muitos outros. Público e jovens entusiasmados, olhem, eu estava naquele jogo onde a arquibancada de madeira desmoronou, há uns sessenta ou setenta anos. Jogamos partidas históricas no campeonato mineiro, com aquele defeito igualmente históric o juiz que vinha era mineiro de BH, o tal que dizia “ a bola é nossa”...! Por que todas estas linhas e recordações? São para você, meu companheiro que ainda hoje umidece os olhos com a marcha da nossa banda tocando o nosso hino – o mais bonito do Brasil! Sofremos, como sempre.
Pouca gente nos ajuda, mas o nosso coração continua vermelho, ainda assusta e surpreende os ricos e poderosos – perguntem ao Cruzeiro... O que escrevi foi curto para a nossa grande história, mas é que posso deixar para a nossa meninada que busca nome e história. O amor é o que vale na vida, mas eu complet temperado com emoção e calor, vale mais...
(*) médico e pecuarista