ARTICULISTAS

Ódio – a pior doença

Tenho 58 anos de vida médica

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 07/09/2012 às 20:27Atualizado em 19/12/2022 às 17:31
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Tenho 58 anos de vida médica. Desde o início, no Hospital Getúlio Vargas – Rio de Janeiro - convivi com toda a sorte de enfermidades, doenças, sofrimentos e morte. Não me esqueço de meu primeiro atendimento em ambulância, na estação da Penha: um senhor que encostaram na parede, um jornal aberto lhe tampando as pernas. Tirei o jornal... e vi suas duas pernas esmagadas, uma geleia atropelada pelo trem do subúrbio. Ele morreu, é claro - mas eu nunca esqueci aquele primeiro, odiado e incurável desastre. Muitos outros aconteceram, angústias, sofrimentos, doenças de dor incurável, mortes programadas e definitivas. Vi pais e mães, filhos, filhas e amigos chorando as dores fatais e terminais. Aprendi que o tempo é o único consolo e esperança: grandes dores vão esmaecendo, carregadas no lixo da vida que corre e traz novos consolos, esperanças, sorrisos... e até mesmo felicidades inesperadas. De tudo e de todos os males, apenas um me foi definitivo, incurável e consumidor: o ódio. As palavras de nossa Bíblia falam: amai-vos uns aos outros. Uma certa inutilidade, no caso do ódio, cuja Bíblia diz: odiai-vos uns aos outros. O ódio não necessita quantidade, gentes, famílias, povos: é um câncer interior, não diagnosticável por instrumentos ou exames. Na área da calúnia do Barbeiro de Sevilha (é isto, Felipe?) ela é descrita como um “venticelo, una aureta” que vai crescendo e explode com o mundo e seu sentimento... para final sofrimento e morte. Pois bem, tomo emprestado o ódio como doença pior: a calúnia é endereçada ao outro, o ódio é endereçado ao coração do portador. Não vou discutir sua gravidade, origem, caminhos e final. É brutal, é insensível e traiçoeiro para o seu portador. Apela aos passados, não fui eu, foram outros, foi o destino que o justificou, amadureceu, e simplesmente... apodrece. O odiento diz que não, não é culpado, o odiado é o culpado. Palavras eventuais de pacificação ou desarme são inúteis, só conseguem aumentar o ódio. Ele ribomba, explode, espelha-se com dores cruciais para todo o ser e sua vida. Quanto menos resultado consegue, mais sofre. Remédios físicos só funcionam para dar algum sono. Esperar a morte da causa odienta apenas consome o tempo e aumenta a raiva cruel da doença. É triste para minha medicina não lhe apresentar remédi as doenças da alma só são curáveis espiritualmente, por Deus e seus caminhos – uma opção difícil para quem odeia.

(*) Médico e pecuarista

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