Escuto Andre Rieu e sua orquestra – show. No momento brilhante de seus músicos, abre-se uma pausa, um silêncio. O público espera no imenso e barulhento auditório. Andre assume um ar sério e, com seu violino, chama ao palco europeu uma cantora-surpresa! Que é brasileira. A linda moça vai cantar “oh, mio bambino caro”, para mim a mais emotiva e dolorosa ária operística – afinal, é a jovem mãe ninando o filhinho como final despedida. O público barulhento cai em silêncio absoluto, idosos e jovens choram lágrimas e soluços. Do lado de cá, doméstico e em casa vazia, derramo minhas lágrimas de solidão – a pior de todas, porque é senil, sem audiência e sem retorno. Posso e imagino como o bambino caro representa para a mãe o maior dos amores, sua carne e coração. Terminada a emoção coletiva, o auditório vai-se acordando, algumas e progressivas palmas, a explosão final e intensa de todo o auditório. Enxugo também minhas próprias lágrimas, disfarçadamente porque estou sozinho. Lá dentro do peito tenho aquela dor da mãe em seu amor solitário, absoluto, como somente Deus pode ter e conseguir: sem querer, lembro minha doce mãe Elvira, que lá no céu deve escutar também os bambinos queridos. Entendo que uma mãe realmente ama em definitivo seus bambinos caros. Por eles fará tudo, todos os sofrimentos, angústia, lágrimas... o bambino querido é seu amor definitivo, o resto é resto, enfeite ou necessidade física para sobreviver e viver. Pais, parentes e sustentos físicos são esquecidos, valem zero quando o coração materno sofre. O bambino caro é dono final e absoluto do amor materno. Dureza maior e pior é quando os filhos deixam de ser bambinos, crescem, casam-se e tem seus próprios filhos, novos bambinos caros de novas e amantes mães. A velha avó poderá cantar e ninar, serão saudades apenas, seus filhos vivem para os seus próprios... Não aconselho ouvirem esta ária, que é história de vida. São três horas da manhã. Acordado, ainda tenho alguma lágrima do pensamento e do tempo... meus bambinos, os bambinos de nós todos...