Depois que entrei na terceira idade, incorporei alguns hábitos em minha vida. Eles, que são quase manias, começam com o cantar do galo e vão até quando cerro os olhos para dormir. Descobri que o idoso não precisa dormir muito porque tem a certeza de que o sono eterno não está tão longe para ser dormido.
Evitando cansar você, leitor(a), que pode estar ou vai entrar na terceira idade, me permiti esquadrinhar um hábito meu que entendo ser benéfico a todos: andar mais devagar e olhar onde piso. Tudo porque dentro de casa ocorrem acidentes com fraturas de cabeça, fêmur, bacia, ombro, braço, cóccix etc., mas nas vias públicas o número deles sai de controle. Os hospitais e as casas com os “nonos” acidentados não me deixam mentir.
Andar mais devagar nos permite ver o perigo de uma queda antes que ela aconteça. Quase sempre as lentes dos óculos do idoso acusam os desníveis, mostram aqueles estragos não reparados nos passeios, identificam os degraus nos meios-fios, mas... cadê o reflexo? Observo que o idoso perspicaz inclina pouco sua fronte para manter seus olhos fixos nos pisos, todavia, nem assim os nossos passeios têm deixado de levá-los ao chão. Um colega de profissão, malungo meu na idade, e uma senhora octogenária que tanto prezo tropeçaram nas nossas calçadas e vejam o que lhes aconteceu: ele quebrou a rótula de um dos joelhos e ela sofreu escoriações por todo o corpo. E quem paga essa conta dolorosa?
Certa vez, assisti num escritório a queda de uma moça que pisou e escorregou num clipe metálico de prender papéis. Sua fratura foi tão séria que hoje, passados vinte anos, ela só se locomove numa cadeira de rodas. Pode? Uma das colaborações que prestei e muito me honra foi a de ter integrado a comissão de preparo para as comemorações pela primeira vez do Ano Internacional do Deficiente Físico. Estive junto a: Renê Barsan, Pedro Lima, Luiz Manoel da Costa Filho, Virgínia Abdalla, Wilson Nunes dos Santos, Neusa de Oliveira Nabbout, Humberto de Oliveira Ferreira, Maria Aparecida Colares, Francisco Mauro Guerra Terra, Leda Brasileiro Teixeira Valle e outros valiosos que minha memória, mesmo indo à exaustão, não conseguiu lembrar. Eram os dias antecedentes a 3 de dezembro de 1981.
Há quase 33 anos, portanto, foram lançadas as sementes no mundo e em Uberaba. Hoje, diante da tímida implantação de acessibilidade e mobilidade, a começar nos prédios públicos passando pelos particulares, além das praças, ruas e avenidas, vem-me a nítida certeza de que muitas sementes não germinaram. Ainda há nos cargos os que andam depressa sem olhar onde pisam.
(*) PRESIDENTE DO FÓRUM PERMANENTE DOS ARTICULISTAS DE UBERABA E REGIÃO; MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DO TRIÂNGULO MINEIRO