Ontem nosso jornal deu a notícia
Ontem nosso jornal deu a notícia, de certa forma atendendo a um telefonema que lhe fiz. Resolvi completar a história do Orides, ser humano e, portanto, digno de nossa atenção – que nem sempre é integral. Orides tem 103 anos de idade – trabalhou comigo na fazenda Rio do Peixe por uns quarenta anos, ensinou-me a andar a cavalo, tem 13 filhos, mudou-se há anos para a cidade no bairro Tutunas. Tem um megacolon chagásico, doença frequente naqueles anos da juventude – o que significa períodos graves de obstipação – prisão intestinal, cólicas, por vezes vômitos e incapacidade de se alimentar. Há dois anos teve uma torção do colon, tratei-o no nosso São José, resolvemos sem operação (101 anos!). Agora, com mais dois anos, repetiu o quadro, eu não estava, foi levado em ambulância para a unidade UPA Mirante, onde passou três dias – diagnóstico de oclusão intestinal, tratamento... hidratação parenteral, analgésicos. O Zezinho – seu filho – levou-me a vê-lo, e por aí poder inteirar-me de atendimentos naquela nova unidade da Prefeitura. Gente, devo dizer a todos deste mund não conheço em Uberaba nenhum hospital que tenha instalações tão completas, adequadas e de alto nível, além de tudo em beleza arquitetural. Fiquei de queixo caído, valeria aos meus colegas dos hospitais particulares ver esta beleza e sofrer sabendo que nós “particulares” não conseguimos este status. Já vou imaginando como vai ser o nosso hospital público prometido pelo poder municipal... Bem, deixa pra lá a beleza, vamos ao Orides em sua via-sacra. Aí é que o carro pega, infelizmente, e exatamente por ser o fator mais importante: o atendimento profissional. Primeiro, não é falta de gente, assistência e medicina. Tem até demais, pelo que vi. Gostaria de receber da Secretaria de Saúde uma relação dos profissionais da saúde lá lotados para trabalho – eles dão trombadas no corredor, mas no caso do Orides – como se diz no Rio do Peixe: a turma “casca fora”. Passa o plantão, como dizemos. Não encontrei atividade médica superior em hierarquia e eficiência: o Orides era o “caso perdido”. Em homenagem ao passado e lições de cavalaria, decidi retirá-lo e trazê-lo ao São José, minha casa de tanta luta e experiência. Foi difícil: a administradora não estava, a sucessora caiu na braquiaria até que chamei ao telefone o nosso secretário da Saúde. O doutor Hial não atendia, mas eu “conversei com ele” no celular, só eu respondendo, e conclui: então posso levar o doente, certo? E a coisa progrediu, não sem burocracias: a família assinar o pedido, eu também... e a negativa do chefe das ambulâncias: contratar transporte particular, pedidos de saída particular não tem direito à nossa ambulância! Depois resolveram, a graça de Deus deve ter tido assessoria do poder! Orides está aqui comigo, seu intestino já funcionou, a filha diz que Deus é grande! Verdade, verdade. Uma pena, nos hospitais particulares não podemos sonhar com a riqueza e beleza do Mirante. Amém!
(*) Médico e pecuarista