Os benefícios da sucupira

Você, provavelmente, já ouviu falar sobre as propriedades medicinais de uma planta típica do Cerrado, a sucupira (Pterodon spp.). É comum encontrar em mercados municipais a comercialização de seus óleos, extratos e sementes, com ação popularmente conhecida como antirreumática, atuando principalmente na diminuição da dor e da inflamação.

Por ser amplamente conhecida e utilizada pela população, a planta é assunto hoje estudado por importantes grupos de pesquisa de diversas partes do mundo. No Brasil, podem-se destacar as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas há 14 anos no Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob a orientação da pesquisadora Mary Ann Foglio.

A ideia é identificar na planta quais são as substâncias que atuam beneficamente no nosso organismo e quais podem ser tóxicas, para gerar produtos concentrados que potencializem seu uso medicinal e que possam ser comercializados de forma padronizada. Uma comprovação que já se tem é que as substâncias de maior importância medicinal da sucupira estão presentes nas sementes, e não nas folhas, como alguns imaginavam. Esse é um ponto favorável à conservação dessa espécie nativa do Cerrado, pois a semente é um produto renovável e sua coleta não demanda a derrubada da árvore.

Resultados promissores já têm sido revelados em experimentos não-vivos e em camundongos, que destacam sua ação eficaz como analgésico, anti-inflamatório e, inclusive, anticancerígeno, principalmente contra o câncer de próstata. Outros grupos de estudo têm revelado também uma eficaz ação antitumoral contra leucemia, além de propriedades antifúngicas e antibacterianas, que pode no futuro levar a produção de novos tipos de antibióticos.

Além de medicamentos, outros produtos como pomadas ou cremes de massagem fitoterápicos com o extrato bruto ou enriquecido com os princípios ativos da sucupira devem ser produzidos em breve, principalmente para aliviar dores reumáticas. Além disso, seu uso vem sendo sondado e estudado como forma de tratamento para a osteoartrite, devido à sua ação na diminuição da dor e no controle do processo inflamatório.

É importante lembrar que, para se produzir um medicamento com os princípios ativos da sucupira, é necessário que se atenda a três parâmetros: (1) eficácia contra determinada doença ou sintoma, (2) reprodutibilidade para que todos os lotes do produto contenham sempre a mesma substância, e (3) segurança quanto à toxicidade dessas substâncias, ou seja, conhecer se o medicamento pode em algum momento levar a uma resposta negativa pelo nosso organismo. É nesses parâmetros que estão concentradas as pesquisas sobre a sucupira, o que pode fazer com que a produção de medicamentos ainda leve certo tempo.

De qualquer forma, esse é o refinamento e a comprovação de um conhecimento que provavelmente muitos de vocês já tinham, ou seja, é a pesquisa trabalhando a partir de um importante e histórico conhecimento popular, permitindo que os benefícios da sucupira possam, no futuro, ser usufruídos por todos, com segurança e bons resultados.

Referências

Spindola HM, Servat L, Denny C, et al. Antinociceptive effect of geranylgeraniol and 6a,7b-dihydroxyvouacapan-17b-oate methyl ester isolated from Pterodon pubescens Benth. BMC Pharmacology 2010,10:1.

Hansen D, Haraguchi M, Alonso A. Pharmaceutical properties of “sucupira” (Pterodon spp.)

Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences 2010 out/dez; 46(4):607-16.