No coração do homem contemporâneo há poucas palavras tão queridas e sonhadas
No coração do homem contemporâneo há poucas palavras tão queridas e sonhadas como a paz. Não faz muito tempo tomei a decisão de não ler e não escrever mais nada sobre a atual política. Por uma questão de higiene mental. Mais ainda, para não perder a paz interior.
Paz é sonho e procura. É porto de chegada e lar de descanso. Quanto mais o mundo se torna uma “aldeia global”, mais os homens sonham pela paz.
Existe uma paz interior, uma paz que brota do fundo do espírito humano. É a resultante de um equilíbrio interior. Quando as nossas faculdades espirituais estão em ordem, há equilíbrio interior e daí brota a paz. Quando nós nos deixamos dominar pelos instintos, não vivemos em paz, mas num angustiante conflito interior.
Paz não é fruto de nossos egoísmos, de nossos ódios, de nosso desamor. Paz não é consequência de nosso desprezo pelos mais fracos. Paz é fruto de uma luta contínua e difícil contra nossas inclinações destrutivas. Quando nossa vida interior está equilibrada, o viver torna-se uma alegria e uma libertação.
Existe um outro tipo de paz: a paz social. Esta é fruto da justiça, de uma reta distribuição de bens e recursos. Não pode existir paz num país como o nosso em que, em certas regiões, o salário mínimo não chega a quinhentos reais. Não pode haver paz numa nação em que 60% da população vivem sem as exigências mínimas de seu direito de cidadania. Não há paz onde não há escolas. Não há paz onde não há hospitais para todos. Não há paz onde há desemprego. Não há paz onde o poder político se corrompe em negociatas e em assalto o dinheiro do povo. Não há paz quando o dinheiro se concentra nas mãos de uma minoria de privilegiados e o poder aquisitivo de oitenta por cento do povo é insuficiente para uma vida digna.
Paz é procura, é uma luta de todos os dias, de todas as horas, de todos os minutos. Não podemos entender “o caminho para a paz” enquanto não tivermos coragem de apontar as injustiças dominantes na sociedade. É uma luta cada vez mais difícil. Exige de nós um desprendimento total. Exige de nós doação e coragem, aqueles que lutam pelo bem social, aqueles que lutam pelos direitos dos mais fracos são apontados como “inimigos da ordem”, como defensores de bandidos e coisas piores.
Somos cristãos. Conhecemos as bem-aventuranças. Uma delas nos alerta para a luta, para o sofrimento que ela traz consig “felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino de Deus” (Mt 4, 10).
É difícil construir “os caminhos da paz”. Sim, é muito difícil, mas é sumamente gratificante. Vale a pena. E que Deus nos abençoe a todos nessa luta difícil de lutar pela paz.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro