Para a outra estufa

Certo dia, a direção geral da Faculdade de Odontologia solicitava o meu comparecimento urgente. Depois de mil pensamentos, lá estava atendendo aquele chamado. O professor responsável pelas disciplinas de Histologia e Microbiologia por haver sido eleito a Prefeito de Uberaba, não mais as ministraria. Aquela direção geral estava me passando as duas disciplinas. Tremi o corpo todo sem poder dizer Sim ou Não. Era taxativa. Como eu era moço repleto de esperanças como tantos outros, empurrado pela vontade de crescer e Deus ao coração me entusiasmando, aceitei com o propósito de experimentar, alegando temeroso de decepcionar. A luta não me foi fácil. A Histologia não tanto—mas, a Microbiologia, pelo amor de Deus. Passei dias sobre escassos recursos. Comecei... Inteligentes e curiosos moços me encaravam atentos e eu, tenso e de mãos frias, dei cuidadosamente o meu primeiro passo naquele caminhar. Fui feliz... Por mais de quinze anos, me embeveci com as suas maravilhosas informações. As disciplinas ditas básicas tais como a Histologia, Patologia, Anatomia, Fisiologia, Embriologia, Microbiologia, constituem um mundo encantador de informações. São por vezes simples, mas fazem um sentido magnífico em nosso alheismo. Ensina a Microbiologia, que algumas bactérias vivem como nós, respirando e necessitando do Oxigênio. Outras, dele não precisam porque não respiram. Outras mais felizardas, respirando ou não, vivem. As primeiras são as Aeróbias-ou Aeróbicas, (precisam do oxigênio). As segundas, Anaeróbias-ou Anaeróbicas, (não precisam do Oxigênio). As últimas      são as Aeorófilas, aquelas felizardas que vivem com ou sem Oxigênio. Sem adentrar a especialidade médica, exemplificando, a ferida causada pelo tétano (Clostridiun tetani- bactéria do tipo das Anaeróbias), não precisa do Oxigênio para a vida. Normalmente o médico sugere que a ferida fique descoberta porque o Oxigênio para aquele tipo de bactéria é um fator morbígeno (mortal), além do tratamento sistêmico, logicamente. Também, dentre tantas informações, ficamos sabendo que para a bactéria desenvolver lhe é imprescindível três condições: Quietude, Calor, Umidade. Tais condições dentro de nós, são encontradas com fartura e, bem por isso somos um prato cheio para as elas. Entende-se por Quietude, aquele local onde não se mexe. Sem perturbação, as bactérias vão se multiplicando quietamente.  Quanto o Calor, se quiser entender o seu sentido na vida das bactérias, disponha de sua geladeira e logo sentirá o que acontece com os alimentos. Quanto a Umidade é tão importante para o seu viver que, não existindo, nenhuma bactéria viverá. Por exemplo, a carne de sol (carne seca), enquanto estiver exposta ao sol, estará tendo Quietude, Calor, mas não Umidade. Sem Umidade, bactéria alguma vive como dissemos. Se essa carne for levada a uma cultura em laboratório, não será verificado florescimento bacteriano algum. Se lhe jogar um pouco de água, de imediato se torna excelente meio de cultura. Tem-se que a boca embora sofra constantes movimentos perturbando o sentido da Quietude, embora conservando o Calor e a Umidade, é uma estufa repletíssima com mais de 800 espécies de bichinhos para no momento do beijo, passar para a outra boca, ou melhor: PARA A OUTRA ESTUFA.

(*) Odontólogo; ex-professor universitário