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Para onde vamos?

Não assisto a novelas da televisão atual. Houve um tempo em que elas eram interessantes, desenvolviam e contavam histórias, paixões, amores ou ódios

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 27/01/2010 às 19:22Atualizado em 17/12/2022 às 05:55
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Não assisto a novelas da televisão atual. Houve um tempo em que elas eram interessantes, desenvolviam e contavam histórias, paixões, amores ou ódios, estados de espírito, a beleza e a presença da natureza... eu me lembro e tenho saudade da novela Rei do Gado e das coisas daquele tempo.

Havia gente boa e gente ruim, isto faz parte da vida, da qual as novelas pareciam fazer parte. A mocinha era sempre desamparada e sofredora, perseguida vítima do vilão cruel e aproveitador, ou de rival maligna e traiçoeira. O mocinho bondoso e bonito, coitado, sofria pra cachorro, física e amorosamente.

A gente, em frente da tela, sofria também, mas com aquela certeza de que, no final, os maus seriam castigados, pois em todas as novelas o bem era vencedor. E no último capítulo, sempre havia a marcha nupcial para os úmidos olhos da feminilidade, ansiosa e angustiada.

Pois bem, meus amigos, o tempo foi passando e a coisa foi mudando. A televisão sobrevive é do público e dos anúncios, e o romance água com açúcar foi perdendo a graça – deixou de ser novidade, ficou incapaz da curiosidade ou do interesse. Não tem importância – pensaram os autores e expositores –, a gente apela, é só escolher o quê e como. Foi a partir daí, meus amigos, que eu recolhi o trem de pouso. Não dá pra ficar em frente da televisão atual, vendo novelas.

Quando saiu o Big Brother, o susto foi ver na tela a sacanagem provocante que atraía um público ávido de sexo e de sacanagem. Quanto mais, melhor, diziam os organizadores, e era o que queriam os espectadores. Pront abriu-se por aí a rodovia das novas novelas. De raro em raro, passo por ali minha visão e audição, um estudo social dos novos tempos. O público é o mesmo, as mal-amadas, as viúvas, as solteironas e, de parelha, as mocinhas sonhadoras com galãs másculos e esfregadores de beijos, amassos etc. seguidos e sonhados. Se aquilo é amor, não interessa – o que vale é a provocação, o apelo ao sexo e o culto do tesão. Se os parceiros mudarem, melhor ainda: surge o estímulo à diversidade e à promiscuidade. Tem gente – eu já vi – que adora discutir no dia seguinte que o fulano deve mesmo é ficar com a fulana, que por sua vez vai pro colo etc. do sicrano. Caramba, minha gente, assim não dá!

Admito a busca da felicidade, às vezes até por infelicidade ou desastres amorosos. Mas fazer disso uma exibição ou regra de vida, aquilo que um garotão moderno já incorporou e conta ali no posto de gasolina: é isto, cara! Usar, gozar e cair fora! Bem, será que esta vai ser a sua regra de vida? Da mulher que escolher, da filha que lhe vai nascer?... Para onde iremos? – eu pensava. Agora, já pens para onde vamos?

(*) médico e pecuarista

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