Gostei muito da crônica do Dr. João Gilberto, na quarta-feira. Ele fala, com saudades, de seu tempo de criança, quando as grandes festas cristãs eram vividas com seriedade e respeito. Natal e Páscoa eram festas realmente vividas em seu significado religioso mais profundo. Nossa Fé era mais viva e mais séria.
Nós, os idosos, que já passamos dos oitenta, todos nós nos lembramos de nossa infância e mocidade, de como as coisas eram vividas com mais seriedade e com mais Fé. Eram outros os valores familiares, morais e religiosos. Corremos, porém, o risco de desvalorizar as conquistas de meninada de hoje. O que não é o caso.
Não estou dando aula de religião, muito menos me deixando dominar pelo saudosismo. Estou apenas procurando lembrar a mim e a você de que hoje, Páscoa, é o dia mais importante de nossa Fé. Andando pelas ruas, tem-se a impressão de que, para muitos, o que é importante mesmo são os “ovos de Páscoa”. Assim vamos sendo afogados por ondas de chocolate. Como acontece no Natal, o sentido de nossa Fé vai sendo destruído pela violência do comércio. O importante mesmo é o lucro desenfreado. O que vale mesmo é vender. Não basta a figura ridícula daquele pagão, Papai Noel, que conseguiu eliminar a figura doce daquela Criança deitada numa manjedoura, rodeada por seus jovens pais e por animais que ruminam sonolentos? O que fizeram no Natal, continuam fazendo também na Páscoa.
Afinal, qual é o sentido cristão da Páscoa? Etimologicamente, o termo significa passagem, travessia, mudança de margem (do hebraico, Pessach). Para os judeus, o termo recorda a travessia do Mar Vermelho, quando, guiados por Moisés, os descendentes de Jacó fugiam do exército do rei do Egito, do Faraó. Apesar da presença de vários mitos, o núcleo da narração é verdadeiro, embora não conste na história dos egípcios.
Não resta a menor dúvida, na Páscoa celebramos o acontecimento central de nossa Fé cristã. É a renovação de nosso compromisso de mudança, de passagem, de conversão para uma Fé mais bem vivida. Jesus veio ao mundo para comunicar-nos um Projeto de Vida: o Reino de Deus. Ora, nós, cristãos, sabemos quais são as exigências desse Reino. São difíceis. Se conhecemos o Evangelho de Mateus, nós nos lembramos do Sermão da Montanha, onde estão elencadas essas exigências: amar a Deus acima de todas as coisas, amar ao próximo com a nós mesmos, perdoar aos que nos ofendem, ter compaixão pelo pobre, não procurar os primeiros lugares (humildade), ser justos, respeitar a vida dos outros e muita coisa mais. Experimente no dia da Páscoa reler os capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de Mateus. Vamos descobrir, se formos sinceros, que Páscoa é passagem para uma vida mais santa. Ou ainda achamos que o dia da Páscoa é apenas uma oportunidade para empanturrar-nos de chocolate?
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro