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Pedro e o Papai Noel

Estimado leitor, quando Pedro olhou no calendário naquela manhã, apenas confirmou o que já sabia

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 09/01/2011 às 14:19Atualizado em 20/12/2022 às 02:14
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Estimado leitor, quando Pedro olhou no calendário naquela manhã, apenas confirmou o que já sabia: era dia 24 de dezembro, véspera de Natal. Fez algumas contas e concluiu que não sobraria muito para os presentes das crianças.

Pedro trabalhava numa transportadora e, muitas vezes, era preciso carregar nas costas as encomendas do caminhão até o lugar em que o cliente determinava. Naquele dia, trabalhou até meados da tarde.

Entre uma encomenda e outra, um pensamento estranho lhe veio à cabeça: que sentido fazia ele se matar entregando coisas para os outros se pouco teria para levar para a própria casa? Chegou à conclusão de que estava bancando o Papai Noel alheio, sem que ninguém lhe retribuísse o favor. Como já beirava quarenta carnavais, não acreditava mais no bom velhinho, ainda mais depois de tais reflexões.

Na volta para casa, pediu que o deixassem nas imediações do Clube Sírio Libanês. Dali seria fácil chegar à rua Tristão de Castro, onde ficava uma das mais bonitas lojas de brinquedo de Uberaba: as Casas Daher, que, àquela hora, estava abarrotada de clientes. Assim sendo, Pedro não conseguiu falar com nenhum vendedor quando lá chegou. Teria que se virar sozinho para encontrar o que precisava. Mas como estava com pouco dinheiro, achou melhor desistir e ir embora.

Quando já estava quase na rua, Pedro percebeu que o Papai Noel das Casas Daher não estava entretendo nenhuma criança e resolveu lhe pedir ajuda. Sabia, claro, que se tratava de alguém vestido de bom velhinho, já que as lojas contratavam pessoas para se passarem por Papai Noel e atraírem a atenção dos clientes.

Pedro aproximou-se e explicou sua situação. Como tinha um casal de filhos, gostaria de poder comprar uma boneca que falava e andava sozinha para a menina e uma bola de capotão número cinco para o menino. Mas, de fato, o dinheiro de que dispunha não era suficiente e, novamente, uma sensação de desânimo o invadiu.

De súbito, algo muito estranho aconteceu: o Papai Noel segurou-lhe pelas mãos e disse: Pedro, não perca a esperança; este é melhor presente que pode dar aos seus filhos. Não havia dito o seu nome àquela pessoa, como ele poderia saber que se chamava Pedro? Acabrunhado, saiu dali rapidamente. Muito triste, naquela noite, Pedro apenas beijou os filhos, despediu-se da esposa e foi dormir.

Uma tremenda algazarra o despertou no dia seguinte. Ao chegar à sala, viu sua filha brincando com uma boneca que falava e andava sozinha e o filho com uma bola de capotão número cinco. Não entendeu como aqueles presentes foram parar na sua casa, mas suspeitou que o sujeito vestido de Papai Noel das Casas Daher tivesse alguma coisa a ver com aquela história.

No dia seguinte, foi até a referida loja, explicou tudo para o gerente e perguntou como fazia para saldar, ao menos, parte da dívida. Disse que se tratava do Papai Noel contratado pela empresa e pediu seu endereço. Para sua surpresa, Pedro descobriu que, naquele ano, as Casas Daher não havia contratado nenhum Papai Noel. E mais: nenhum homem vestido de bom velhinho foi visto naqueles dias nas redondezas. Na certa, Pedro estava se confundindo, arrematou o gerente.

Completamente aturdido, Pedro chegou à conclusão de que quem acredita no Papai Noel vive mais feliz. Mesmo depois de velho, Pedro nunca mais renegou a figura do bom velhinho.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM

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