As Festas Litúrgicas se repetem a cada ano. Não é diferente com a de Pentecostes, sempre no domingo imediato à Ascensão do Senhor. Entendemos esse dia como a realização da promessa do Senhor Jesus, que, ao voltar ao Pai, encaminha para a terra o Espírito Santo, Espírito Paráclito, Espírito da verdade, para continuar a tarefa salvadora, guiando e santificando a caminhada das comunidades.
No Antigo Testamento há o momento do sopro de Deus, dando ao homem, modelado do barro da terra, o hálito da vida, tornando-o “ser vivente” (Gn 2,7). Nas aparições aos apóstolos, após desejar-lhes a paz e soprar sobre eles, Jesus diz: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Daí começa a missão da Igreja e os apóstolos se sentiram enviados para proclamar o sentido da vida.
Estamos em outros tempos, mas o dinamismo do Espírito Santo continua nos desafios da modernidade. Continua sendo luz e caminho no sofrimento do povo. Nos chamados “becos sem saída”, no meio de confusões e desesperos, normalmente os limites humanos se esgotam e as pessoas ficam sem força. O importante é não perder o foco do Espírito, que abre caminhos quando menos se espera.
O Brasil do momento está visualizando uma Nação difícil, que parece caminhar para tempos sombrios e de futuro ameaçador da esperança. O descrédito na instituição está crescendo e com a possibilidade até de uma “convulsão nacional”. Muitos fatos vêm, infelizmente, acenando para isso. Falta credibilidade em tudo, dando chance para o crescimento do fosso elástico entre ricos e pobres.
Tivemos os primeiros meses do ano de 2019 com muitas marcas negativas, muitas ameaças à vida, fruto de práticas injustas e irresponsáveis. Sem uma atenção mais votada para o Espírito de Deus, a tendência é continuar de mal a pior. Torna-se impossível conseguir vida feliz sem a recuperação de valores que foram deixados de lado, causando vazio e insegurança em meio a forças contrárias.
A Palavra inspirada de Deus, e confirmada no dia de Pentecostes, precisa sair do papel e fazer acontecer, na realidade atual, uma prática que consiga cessar a violência, o ódio, o abuso e a corrupção moral, social e política. As ameaças sofridas pela população brasileira, que acontecem em todas as realidades da cultura, revelam distanciamento e não seguimento dos princípios divinos.
(*) Arcebispo de Uberaba