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Poder e riqueza

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 08/10/2021 às 19:52Atualizado em 18/12/2022 às 16:32
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O primeiro passo a dar é saber entender a natureza própria do poder e o papel qualificado da riqueza, mesmo que os dois sejam totalmente inseparáveis. Na verdade, o poder depende da grandeza da riqueza, que pode ser monetária ou bens materiais, mas também poder constituído a partir da vontade do povo. Neste sentido, o voto dado, de forma consciente e livre, é fonte originária de poder.

O importante é saber o que realmente constitui sentido para a existência das pessoas. Existe uma sabedoria divina que é superior a todos os poderes e riquezas da terra. Numa cultura capitalista e profundamente marcada pela busca desenfreada do poder, é quase inconcebível falar a palavra “desapego”, sugerida e incentivada pelos dizeres da Palavra de Deus, termo revelador da sabedoria divina.

Um belo exemplo de desapego, de despir-se do poder, das riquezas materiais e de glória, está na atitude assumida pelo rei Salomão. Ele pede as condições necessárias para saber governar bem o seu povo e foi-lhe dado, como dom divino, o bom senso e o espírito de sabedoria (Sb 7,7). Esse tipo de sabedoria está acima do poder que vem da razão e de todo tipo de fortunas materiais.

Todo valor privilegiado que é dado à sabedoria divina não significa desprezar as atitudes de poder humano e nem as riquezas terrenas, porque elas são necessárias para sustentar e colocar em prática a iluminação dada por Deus. É uma questão de preferência e de escolha daquilo que mais beneficia e promove a vida humana na sua dignidade, promovendo um mundo mais saudável e feliz.

O poder e a riqueza são práticas muito importantes para a sociedade. Mas quando assumidas por pessoas de mau-caráter, sem formação moral e ética, possibilitam situações indesejáveis para o bem comum. Não é raro assistirmos administrações públicas que chegam a prejudicar frontalmente a população. Não só afeta a política, mas até o setor econômico, dificultando a vida das pessoas.

O Evangelho cita o caso de uma pessoa muito rica, que vai ao encontro de Jesus e lhe pergunta sobre o que era necessário para ganhar a vida eterna, já que cumpria todos os mandamentos. Jesus diz para vender seus bens e distribuí-los aos pobres, mas não foi capaz, mostrando como é difícil o desapego, tanto do poder como dos bens acumulados. O Reino de Deus é desafio para ricos (Mc 10,25).

Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba

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