SONEGAÇÃO

Esquema do PCC com cartéis mexicanos foi descoberto após compra de mansão em Uberlândia

Na última terça (2), operação da PF mirou empresas de Ronald Roland, fornecerdor dos cartéis de Sinaloa e Los Zetas, que sonegaram R$ 5,4 bilhões

O Tempo
Publicado em 05/07/2024 às 15:53
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Imóvel de R$ 2,5 milhões levou PF até as empresas que sonegaram bilhões de reais (Foto/PF/DIVULGAÇÃO)

Uma mansão avaliada em R$ 2,5 milhões, localizada em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, foi o ponto central para que a Polícia Federal (PF) chegasse até um esquema com empresas suspeitas de lavarem R$ 5,4 bilhões do tráfico de drogas, alvos da operação "Terra Fértil", deflagrada na última terça-feira (2 de julho) em Minas e outros seis estados. O imóvel em questão foi adquirido por laranjas de Ronald Roland, um mega-traficante do Primeiro Comando da Capital (PCC) conhecido internacionalmente pelo envio de enormes quantidades de cocaína - por meio de aeronaves - para diversas partes da América do Sul e Central, servindo, inclusive, aos violentos cartéis mexicanos de Sinaloa e Los Zetas. 

Há tempos na mira dos investigadores da corporação, Roland é um antigo conhecido do setor de repressão a entorpecentes da PF, porém, nunca tinha visto sua rede de lavagem de valores atingida por uma investigação. A relação dele com os cartéis mexicanos foi descoberta em outra investigação, ainda em 2015. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dele. 

Após receber informações sobre a mudança do famoso traficante para o condomínio em Uberlândia, a PF passou a levantar informações sobre o imóvel e descobriu que ele foi adquirido em nome da empresa Kaupan Exportação e Importação de Alimentícios. 

Os investigadores então pediram informações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre possíveis transações suspeitas da empresa. A resposta do órgão embasou o mapeamento de dezenas de empresas com transações entre si, sem lastro em atuação lícita. 

Somente a Kaupan, mostram os dados coletados pela PF, recebeu R$ 1,6 milhão em depósitos em espécie em suas contas entre maio de 2019 e janeiro de 2022. 

Os investigadores descobriram também que o mesmo contador responsável pela Kaupan possuía uma série de pessoas ligadas a ele que eram responsáveis no papel por dezenas de empresas que se relacionavam entre si. No total, apenas focando nas principais empresas, foram mapeados 48 CNPJs em nome de laranjas cuja movimentação suspeita foi de R$ 5,4 bilhões nos últimos cinco anos. 

A PF afirma, no entanto, que o valor movimentado deve ser ainda maior, uma vez que foram computadas pelo Coaf apenas transações classificadas como suspeitas. 

Uma das empresas, a LS Comércio, diz a PF, está em nome de Leonardo Santos, preso pela Interpol em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos). Santos é apontado como líder do PCC em Portugal e principal articulador de logística no transporte dos entorpecentes para a Europa. 

PF apontou relação de Roland com ladrões de banco do PCC

A ligação de Roland com o PCC também foi apontada após a análise das movimentações financeiras das empresas. Os documentos indicam transações com ladrões de banco e outros criminosos ligados à facção, segundo a PF. 

A PF cita alguns exemplos dessas transações suspeitas mapeadas pelo Coaf. Em uma delas, o banco notificou o Coaf porque três homens foram até uma agência em São Paulo para depositar dinheiro em espécie na conta de uma das empresas. Os valores estavam em um saco de lixo e foram realizados 20 depósitos de R$ 3.000 cada.

Além do fracionamento nos depósitos em espécie, a comunicação ao Coaf ocorreu porque, quando o banco foi questionar os depositantes sobre a origem do dinheiro, eles saíram correndo da agência. O grupo tentou o depósito em outra agência.

"[Quando eles] chegaram com o mesmo saco de lixo cheio de dinheiro, os colaboradores [do banco] acharam estranho e foram até a sala do caixa eletrônico", diz a PF. "Percebendo que estavam sendo observados, os mesmos 03 homens juntaram o saco de dinheiro e mais alguns envelopes e saíram andando pela rua." 

Além das movimentações, a PF aponta para o poder financeiro do grupo ao listar os bens registrados em nome das empresas e pessoas investigadas. São mais de 90 automóveis, 11 aeronaves e dezenas de imóveis.

"Até mesmo para o mais experiente operador do direito da área criminal são assustadores os valores suspeitos envolvidos, a quantidade de criminosos interconectados, dezenas deles com registro policiais/judiciais por tráfico de entorpecentes, associação para o tráfico, latrocínio, roubo, sequestro entre outros, alguns inclusive com envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital - PCC", afirma a PF. 

Fonte: O Tempo

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