Investigado também por exercício ilegal da profissão, o suspeito teria pressionado testemunhas e usado vídeos para intimidar envolvidos

Polícia Civil cumpre buscas e apreensões durante processo de prisão preventiva. (Foto/Divulgação/PC)
Ex-aluno de medicina veterinária que se passou por profissional da área teve a prisão preventiva decretada. Ele é investigado por diversos crimes e o mandado foi cumprida na noite de quinta-feira (13) em Uberaba, após atuação conjunta da Polícia Militar (PM), Polícia Civil (PC) e Ministério Público (MP). A ordem judicial, expedida pela 1ª Vara Criminal da Comarca, é resultado de denúncia apresentada pelas Promotorias de Defesa do Consumidor e de Meio Ambiente, que apontaram suspeitas de coação no curso do processo e outras práticas ilícitas vinculadas a investigações em andamento.
O acusado, que seria estudante de veterinária, passou a ser investigado após a responsável de uma cadela da raça pug, em abril deste ano, denunciar que ele teria se apresentado como médico veterinário, realizando atendimento domiciliar, trajado de jaleco. Na ocasião, ele realizou avaliação clínica e cobrou pelo serviço, mesmo ainda estando apenas na graduação. No dia seguinte, o animal morreu e a tutora recebeu o atestado de óbito, supostamente emitido por ele, levantando suspeitas sobre a atuação irregular e possível falsidade ideológica, já que o documento continha informações incompatíveis com sua qualificação, motivando a abertura e o aprofundamento da investigação policial.
Segundo o delegado Elinton Feitoza, que coordena parte das apurações, o homem estaria envolvido em condutas reiteradas de constrangimento e pressão sobre testemunhas ligadas a diferentes procedimentos, como na citada investigação sobre exercício ilegal da profissão de médico veterinário, episódio que gerou forte repercussão no início do ano. De acordo com o delegado, pessoas relacionadas a esses processos relataram ter sido coagidas de diferentes formas.
O delegado afirmou ainda que o investigado empregava outros expedientes para pressionar envolvidos nas apurações, chegando a utilizar imagens de autoridades e informações distorcidas para tentar influenciar depoimentos. Em um dos casos citados, uma fotografia do próprio delegado foi compartilhada sem autorização, acompanhada de afirmações falsas sobre diligências policiais, com o objetivo de intimidar testemunhas.
A prisão chegou a ser planejada para ocorrer na madrugada desta sexta-feira (14), mas, segundo o delegado, a PM obteve informação sobre o paradeiro do suspeito e realizou a abordagem ainda na noite anterior. Após ser detido, ele foi levado à delegacia e, posteriormente, encaminhado ao sistema prisional, onde permanece à disposição da Justiça. Os procedimentos criminais continuam em curso, e alguns deles aguardam a finalização de laudos periciais.
Acusado teria usado imagens de suposta agressão a animais como forma de coação
O delegado Feitoza explicou que, nos últimos meses, surgiu indício de que o investigado teve acesso antecipado a imagens de supostas agressões a dois cachorros, praticadas por um funcionário de um pet shop da cidade. De posse desse conteúdo, o acusado teria enviado vídeos e áudios ao homem que aparece nas imagens, cobrando “ações” e usando o material para pressioná-lo. A PC ainda apura há quanto tempo ele manteve esses arquivos e de que forma os utilizou.
Sobre este caso de maus-tratos no estabelecimento, a Polícia já identificou e ouviu o indivíduo que aparece nas imagens. O local onde ocorreu o fato, segundo as autoridades, não é mais o mesmo que consta atualmente em divulgações. Esse procedimento segue para conclusão do laudo que analisará as imagens para confirmar ou descartar o crime.
A denúncia relativa a esse episódio ganhou repercussão após o vereador Caio Godoi divulgar os vídeos nas redes sociais e informar que formalizaria representação à Polícia Civil. Ele afirmou, na ocasião, que recebeu o material de uma cuidadora e que o comportamento registrado era incompatível com práticas profissionais voltadas ao bem-estar animal.
A PC reforça que todos os fatos seguem sob investigação, cada um em seu procedimento próprio, e que a prisão preventiva cumprida nesta semana está relacionada ao conjunto de condutas atribuídas ao estudante de medicina, especialmente às tentativas de coação identificadas no curso das apurações.
Ao JM, a Uniube confirmou que o indivíduo citado não faz mais parte do corpo discente da instituição. "Por se tratar de caso sob responsabilidade das autoridades policiais e judiciais, cabe exclusivamente a elas qualquer esclarecimento sobre o processo", se posicionou, em nota. A universidade reforçou ainda que repudia toda e qualquer prática contrária à lei e permanece à disposição dentro dos limites legais que lhe competem.