Congresso pressiona, mas pesquisa mostra maioria contra perdão a golpistas (Foto/Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)
A pauta da anistia voltou com força ao centro da política nacional. Uma pesquisa inédita da Genial/Quaest, divulgada nesta terça-feira (16), mostra que a sociedade brasileira está dividida em relação ao tema, principalmente após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal no processo da trama golpista.
O levantamento revela que 41% dos entrevistados rejeitam qualquer proposta de anistia. Outros 36% aprovam a medida em caráter amplo, que incluiria Bolsonaro e todos os demais condenados. Uma parcela menor, 10%, defende o benefício somente para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Já 13% dos consultados não souberam ou preferiram não opinar.
Trata-se do primeiro estudo de opinião desde a decisão do STF contra Bolsonaro, que recebeu pena de 27 anos e 3 meses de prisão. Foram ouvidas 2.004 pessoas entre os dias 12 e 14 de setembro, com margem de erro de dois pontos percentuais e índice de confiança de 95%.
O debate sobre a anistia gera embates acalorados. No Congresso, aliados do ex-presidente pressionam para que a proposta avance rapidamente. Luciano Zucco (PL-RS), líder da Oposição na Câmara, anunciou que houve acordo para pautar a urgência da votação já nesta quarta-feira (17), sob comando do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Ainda assim, não há consenso sobre o texto final. No Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) defende um projeto que revise e reduza penas de manifestantes do 8 de janeiro, mas sem contemplar Bolsonaro diretamente. Do outro lado, a ala bolsonarista exige uma anistia considerada “ampla, geral e irrestrita”.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, foi categórico em sua rede social: “Não existe anistia meia-bomba! Só aceitaremos anistia ampla, geral, irrestrita e imediata. Anistia já!”
A pesquisa também mostra como o tema se divide por espectros ideológicos. Entre os eleitores que se identificam como de esquerda, mas não lulistas, 73% rejeitam a anistia. Entre os lulistas, a rejeição cai para 58%. Já no campo da direita, a situação se inverte: 62% dos bolsonaristas e 61% da direita não bolsonarista apoiam a medida.
O estudo surge em meio a um ambiente político já polarizado e com reflexos eleitorais claros. A forma como o Congresso lidará com o assunto pode influenciar não apenas a imagem de Bolsonaro, mas também os movimentos estratégicos de partidos para as próximas disputas nacionais.
Mais do que um debate jurídico, a anistia se transformou em símbolo político: para uns, um gesto de pacificação; para outros, um risco de impunidade e de enfraquecimento das instituições.
Enquanto isso, a pressão sobre deputados e senadores cresce, e a votação promete ser um dos pontos mais quentes da atual legislatura.