ARTICULISTAS

Posse na Academia

O mundo atual oscila entre dois extremos convivenciais na cultura. De um lado, teimosa, está a geração antiga

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 23/02/2011 às 19:42Atualizado em 20/12/2022 às 01:32
Compartilhar

O mundo atual oscila entre dois extremos convivenciais na cultura. De um lado, teimosa, está a geração antiga, que ainda aprecia ler, escrever, imaginar e sonhar com os bons tempos de sua juventude. De outro lado, desponta, cresce e se impõe uma nova geração, caracterizada por absoluta ignorância cultural, porém armada de todas as armas da cibernética, desde o inocente telefone celular até as calculadoras que carregam num bolsinho, uns tais de iPhone, iPode e outras coisas que não conheço e dos quais quero morrer virgem. Aí estão diferenças fundamentais do que se poderia chamar cultura da humanidade.

Ponho simples na minha escrita e pensamento. Como é possível uma coexistência entre uma Academia literária e uma novela da Globo no mesmo horário? Pois isto aconteceu justo agora, na noite em que tomavam posse na Academia de Letras do nosso Triângulo duas expressões culturais e literárias – a doutora Lídia Prata e o político-poeta Narcio Rodrigues. Devo enaltecer e agradecer à nossa Aciu pelos arranjos e cessão de seu salão de honra para esta festa exemplar que ainda diz: a cultura humanística permanece eterna.

Não entrarei nos detalhes e descrições, tudo isto foi perfeito – e nos moldes da nossa tradição artística e cultural. Uma iniciação musical, violinos, violoncelo, um contrabaixo perfeito desfilando a ária para uma corda só, calmante e linda – e logo o nosso regionalismo cultural com a viola caipira e a nossa canção sertaneja, dolente, sensível e eterna. Um primeiro ato magistral, eu diria, que caracteriza uma cultura regional onde não há acadêmicos impostos por interesses, por políticos, por pressões não culturais. Seguiram-se os discursos e a posse efetiva da Lídia e do Narcio. Olhem, eu nunca pensei que a Dra. Lídia fosse capaz de fazer um discurso tão puro e emocional. Como genética de seu pai, impressionei-me que sua coluna no jornal não é toda o seu sentimento, que outras emoções e sentimentos a dona de ferro os tem.

Agora vem o Narcio, cuja poesia e jornalismo eu já conhecia. Infelizmente, não pude ouvi-l chamaram-me rápido ao hospital – e é por aí que volto acidentalmente ao princípio desta crônica: a diferença e divergência das culturas. Entrando no hospital, a TV está ligada na novela da Globo, que a massa popular aguarda avidamente. Enred garotas jovens e lindas discutem suas paixões e sua fome e sede pela cultura mais simples: a experiência sexual. E trocam de parceiros, que por sua vez trocam por outras parceiras, tudo num clima de excitação sexual insaciável e prometedora de prosseguiment vejam amanhã, no intervalo comprem sabão Omo e tomem cerveja tal!

Caramba, como é que este cronista pode acreditar em evolução cultural saindo da Academia para a mais deslavada sem-vergonhice da moderna arte televisiva. Se alguém souber, me avise. Estarei feliz na igrejinha de Santa Rita, ouvindo o Helio Ademir cantar os clássicos.

(*) médico e pecuarista

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por