Como já lhe contei tantos fatos que se deram comigo, não há razão para não lhe contar mais esse momento. Dias depois do acontecimento, conversando com um alguém muito longe daqui, me dei a lhe fazer manifestações de meu coração entristecido e cheio de saudade. Calado e demais simplório, porém atento ao que lhe dizia, de cabeça baixa e sem me olhar me falou pausado.— É meu amigo; “Saudade existe para isso mesmo. Saudade existe para a gente sentir.” Nunca havia ouvido tamanha verdade. Mas, feliz dele que não sentia a minha saudade. Pensei muito antes deste exposto porque pode parecer uma indução de crença—mas, que sentido faz a mim, essa filosofia de cada um? Certa madrugada, o telefone tilintou. Meu irmão apresentava claros sintomas de derrame cerebral. Não tenho como lhe descrever o meu desespero. Apesar das providências, faleceu aquele irmão. Naquele dia, me senti no mundo onde começava a ausência daquele companheiro. Era mais novo que eu. Quantas vezes ele dormiu sobre os meus joelhos e, quantas vezes lhe beijei enquanto dormia. Quando faleceu, me afundei tomado de uma tristeza, recordando o nosso convívio. O procurei por todas as partes. Um procurar ilusório—mas, o procurei. Como ele frequentava o Centro Espírita “Caminheiros do Amor” e eu ainda crendo na esperança, certa noite estive lá. Eu me encontrava na porta de entrada do Centro, esperando o responsável pela biblioteca. Ali na porta, a iluminação era zero. Subitamente, um alguém bateu de leve em meu ombro perguntando-me onde ficava a fila dos passes. Sem lhe dar mínima atenção e sem lhe olhar, lhe mostrei também sem muita cortesia, a fila atrás de mim. Minutos depois, fui para dentro do Centro. Não lhe sei dizer o porquê me veio o desejo de procurar aquele senhor. Como eu poderia reconhecê-lo se não havia visto a sua fisionomia? Também, qual razão daquele interesse? Mesmo assim, continuava olhando um por um na fila dos passes. Curiosidade estranha! Muito estranha mesmo! Em dado momento, encarei-me com um daqueles que também me olhava. Nossa meu Deus, exclamei comigo mesmo! Como se parece com o meu irmão! Retirei deles meus olhos. Estava estarrecido com aquela semelhança. Olhei novamente... Que semelhança!... Inacreditável!... Que semelhança!...Fiquei pasmado!... Entrou para a sala dos passes. Quero vê-lo de frente assim que sair, pensei. Fui para perto da porta e fiquei atento. Não mais o vi. Aquela ilusão saiu da minha cabeça. Dona Lenita Abrão, médium consciente daquele Centro, após terminar os trabalhos e em conversa conosco, depois de breve silêncio, virou-se para mim e me perguntou se havia visto o meu irmão na fila dos passes? Levei um susto que você não pode imaginar. Dona Lenita! Pelo amor de Deus, o que a senhora está me dizendo? Aquele era o meu irmão?—“Sim, respondeu-me... Ele estava atrás de mim, percorreu o corredor e foi até ao senhor e logo entrou na fila.” Naquele momento, chorei de alegria. Finalmente Deus me havia permitido ver o meu irmão. Naquela noite, num sono agitado, sonhei com ele. Não sei o que lhe perguntei. Respondeu-me: —“Má, como me chamava na intimidade: Quando a gente fez o que veio fazer, não justifica mais ficar por aqui, porque a Terra é uma triste coisa.” Acreditar é um direito seu. Quem sabe um dia, você sentirá a mesma alegria que eu senti naquela noite? Quem sabe um dia também, você dirá: É verdade... É verdade... PRA QUE MENTIR?
(*) Manoel Marta@hotmail.com